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Sincretismo Religioso e Suas Origens no Brasil

Publicado em 06/10/2013





Sincretismo religioso

Sincretismo é a fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas quanto nas filosóficas. Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes ou a influência exercida por uma religião nas práticas de uma outra.


No Brasil o sincretismo religioso é uma prática bastante comum. Mas tudo começou a partir do ano de 1500, quando o território brasileiro tornou-se palco para o encontro de três grandes tradições culturais: a ameríndia, nativa da terra; a européia, trazida pelos colonizadores portugueses e mais tarde a africana, trazida pelos escravos bantos e sudaneses. Um encontro que foi, desde o início, marcado pela imposição da cultura européia às populações indígenas e africanas, refletida, principalmente, na imposição da cultura cristã da Igreja Católica Apostólica Romana a esses dois grupos.


Para se viver no Brasil, nesta época, o índio e o negro mesmo como escravo, e principalmente depois, sendo livre, era indispensável antes de mais nada, ser católico. Por isso eles que cultuavam seus deuses e tinham suas bases religiosas bem estruturadas, no Brasil se diziam católicos e se comportavam como tais, além de praticarem os rituais de seus ancestrais, frequentavam os ritos católicos.

Há antropólogos que insistem que a assimilação entre os Santos e os Orixás era aparente e, inicialmente, serviu para encobrir a verdadeira devoção aos seus deuses, pelo fato dos cânticos nesses rituais terem sido efetuados em língua nativa e que ninguém os entendia. Um fato histórico que pode opor-se a este pensamento é a criação das confrarias de negros, como exemplo temos a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na Bahia, que era totalmente composta por negros que haviam realmente se convertido ao Cristianismo e não eram apenas uma fachada.


Essa tentativa forçada de aculturação sempre encontrou resistência, o que acabou resultando em várias tentativas feitas por indígenas e africanos de conciliar os princípios de suas culturas e, por conseqüência, de suas tradições religiosas, a doutrina cultural e religiosa que lhes eram impostas. Na tentativa de preservação dos princípios e práticas religiosas indígenas e africanas, por meio da conciliação com os princípios e práticas católicas, acabaram levando ao nascimento de várias manifestações sincréticas em solo brasileiro, únicas no mundo, algumas delas existentes até os dias de hoje. Mas infelizmente existem poucos estudos sobre a grande maioria delas, o que veremos aqui, é uma pequena ideia de como eram as bases dessas duas culturas religiosas, o sincretismo entre elas e os processos que as levaram a dar origem a outras.



O início de tudo se deu com a religiosidade Tupi, embora várias nações indígenas habitassem o território brasileiro durante os primeiros anos da colonização européia, nenhum grupo foi tão influenciado pelos portugueses quanto os tupis, que no século XVI dominava quase todo o litoral brasileiro e era formada pelas tribos: Potiguar, Tremembé, Tabajara, Caeté, Tupinambá, Aimoré, Tupiniquim, Temiminó, Tamoio, e Carijó.


É muito difícil tentar reconstruir com detalhes as tradições religiosas e crenças tupis na época do descobrimento do Brasil, pois o que sabemos sobre elas deve-se aos relatos feitos por europeus que se estabeleceram aqui no início do período colonial, os quais não se preocuparam em estudar e deixar registros detalhados das mesmas.

O que podemos apreender dos relatos dos primeiros colonizadores sobre a religiosidade tupi foi que seu ponto central era o culto à natureza deificada ou divinizada. O pajé e o feiticeiro, ou xamã, eram os que tinham acesso ao mundo dos mortos e dos espíritos da floresta, e geralmente a eles competiam realizar rituais de cura de doenças, expulsarem maus espíritos que se alojavam nos corpos das pessoas e desfazer feitiços mandados pelos inimigos. A ingestão de alimentos e bebidas fermentadas em muitos grupos tinha uma função ritualística. Mesmo a antropofagia5 que caracterizou os tupinambás se revestia de um tom sagrado, pois acreditavam que, comendo a carne dos seus inimigos, apoderavam-se de sua valentia e coragem.

Os tupis possuíam uma divindade suprema do bem que denominavam Nhanderuvuçu, deus da criação e da luz e a quem competia o ato divino do sopro da vida. Nhanderuvuçu teria sua morada no Sol, manifestava-se nas tempestades através de sua voz, na forma de Tupã Cinunga6 e de seu reflexo, na forma de Tupã Beraba7. Segundo Câmara Cascudo e Osvaldo Orico, grandes historiadores e estudiosos da cultura brasileira, somente com o trabalho da catequese, e com a confusão feita pelos jesuítas, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã8, em virtude das formas como essa divindade se manifestava durante as tempestades. Os tupis acreditavam também em outras divindades, como Guaraci (o deus do sol), Jaci (deusa da lua), Caapora (deus da floresta), Uirapuru (deus dos pássaros), Iara (deusa das águas) e em uma entidade civilizadora denominada Iurupari9, filho da virgem Chiuci, que teria sido mandado à terra por Guaraci para reformar os costumes dos seres humanos.

Segundo Diamantino Trindade essa crença que lembrava muito a história de Jesus Cristo, teria deixado os jesuítas apavorados. Como forma de tornar a religião católica mais fácil de ser assimilada pelos indígenas, os jesuítas associou ao seu deus e santos os nomes de algumas divindades tupis. Foi assim, por exemplo, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã e foi transformado em Deus/Pai. Entretanto, na maioria dos casos, os jesuítas associaram os deuses indígenas aos demônios da doutrina católica. Foi o caso, por exemplo, de Iurupari, que teve sua imagem totalmente invertida e acabou sendo associado ao próprio diabo, embora sua história lembrasse muito a de Jesus.



Isso tudo acabou gerando a primeira religião sincrética surgida no Brasil da junção da Religiosidade Tupi e do Catolicismo, que ficou conhecida como SANTIDADE, nome criado por Manoel da Nóbrega, em 1549, quando viu um pajé em transe pregando a outros indígenas. Os adeptos da Santidade cultuavam um ídolo de pedra, chamado de Tupanaçu, que acreditavam possuir poderes sagrados, rezavam usando cruzes, terços e rosários, construíam “igrejas” e colocavam tábuas com desenhos de símbolos sagradas nelas, cultuavam alguns santos católicos e entoavam cantos em honra aos mesmos, faziam um ritual semelhante ao batismo e realizavam procissões.



Neste mesmo período, com o início dos trabalhos de catequese na região amazônica, a partir da cidade de São Luís do Maranhão, iniciou-se um processo de sincretismo entre a religiosidade ameríndia local e o catolicismo, semelhante ao que ocorrera no litoral, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida pelo nome de PAJELANÇA. Embora o termo pajelança acabe sendo usado também para designar todo e qualquer ritual ameríndio, ele aqui designa a religião sincrética de caráter mágico-curativa que ainda existe nos dias de hoje na região amazônica, sobretudo nos estados do Pará e do Amazonas.


A exemplo da Santidade, nos rituais da Pajelança são encontrados o uso de trajes nativos (pena, arco, flecha, colares, máscaras), cantos e danças, a fumaça derivada da queima do tabaco e o consumo de bebidas fermentadas, que permitem ao pajé entrar em transe místico e ter visões e incorporar espíritos. Em algumas Pajelanças pode-se encontrar também a devoção aos santos católicos. Uma característica marcante da Pajelança é que além de incorporarem os espíritos dos antepassados das tribos e de antigos chefes do culto, os pajés também incorporam espíritos animais, sejam eles reais como: jacarés, botos, cavalos-marinhos, cobras ou imaginários como: mãe d'água, cobra-grande, e por meio dos quais descobriam a causa das doenças de seus consulentes e os remédios para eles.



A partir do século XV inicia-se uma das maiores migrações forçadas da história da humanidade, na qual milhões de africanos que haviam sido capturados em seus territórios ancestrais, na maioria das vezes por outros africanos de tribos rivais, foram levados para o litoral e vendidos como escravos para os europeus e brasileiros em portos específicos na África e trazidos nessas condições para o Brasil. No final do século XVI ao final do século XVIII, a principal etnia trazida para o Brasil foi a dos Bantos, povo que durante o período colonial brasileiro ocupava a maior parte do continente africano situado ao sul do equador, na região onde hoje está localizado o Congo, a República Democrática do Congo, Angola e Moçambique, entre outros. Parece que a grande maioria dos Bantos que foram trazidos para o Brasil cultuava um deus supremo chamado de Nzambi, Nzambi Mpungu ou Anganga Nzambi, ou simplesmente Zambi como é conhecido hoje, e a natureza deificada que era personificada nas divindades chamadas Nkises.


Assim que chegavam ao Brasil, os africanos escravizados eram logo submetidos à aculturação portuguesa, traduzida principalmente na catequese católica: eram batizados e recebiam um nome “cristão”, pelo qual seriam conhecidos a partir daquele momento. Assim como os tupis, os bantos também tentando preservar suas tradições religiosas no Brasil, adaptaram suas crenças às condições de escravidão que estavam submetidos. A principal forma encontrada por eles, como foi feito também pelos tupis décadas antes, foi associar os santos católicos aos seus deuses, no caso aqui os Nkises, de acordo com as características ou arquétipos que ambos possuíam em comum.



Foi a partir deste sincretismo, ocorrido no interior das senzalas a partir do final do século XVI, que nasceu a primeira manifestação sincrética da religiosidade banto/católica no Brasil: o CALUNDU. Seu nome foi originado da palavra banto Kilundu, que até o século XVIII foi utilizada para designar genericamente a manifestação de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia.


O que nos chama a atenção são os relatos da aparente tolerância manifestada pelos proprietários de escravos ao Calundu. Muito provavelmente essa atitude devia-se a crença de que com essa prática os africanos manteriam vivas, pelo menos dentro da senzala, as rivalidades tribais existentes na África, o que dificultaria a formação de rebeliões ou fugas. É importante ressaltar que, apesar dessa tolerância, os aspectos ritualísticos do Calundu ligados a magia e a incorporação de espíritos eram freqüentemente combatidos por serem considerados coisas malignas, surgindo daí a expressão magia negra para designar a magia voltada para o mal, que na mentalidade da época era “coisa de negro”.


Ao longo de todo o período de escravidão negra no Brasil, inúmeras foram as tentativas bem sucedidas de fugas das senzalas empreendidas pelos africanos. Os relatos dos inúmeros quilombos10 existentes no país ao longo dos períodos colonial e imperial são a prova mais marcante disso. Entretanto, no início, antes do surgimento dos primeiros quilombos, os africanos que conseguiam sucesso em suas fugas só conseguiam abrigo nas aldeias indígenas do interior. Mais do que abrigar os primeiros africanos bantos fugidos das senzalas, as aldeias indígenas abrigariam toda a cultura e religiosidade deles, que acabaria por influenciar sua própria cultura e religiosidade.



Muito provavelmente no nordeste do século XVII, onde uma pequena parcela de religiosidade dos bantos acabou se misturando ao sincretismo ameríndio-católico do interior, levando ao surgimento da primeira religião sincrética brasileira, o CATIMBÓ, surgida da fusão religiosa dos três povos formadores do país, também conhecido como CULTO À JUREMA, resistente até os dias de hoje em todo o nordeste brasileiro.

Apesar de existirem a incorporação de Caboclos no Catimbó, seu culto baseia-se principalmente nas entidades conhecidas como Mestres da Jurema ou apenas Mestres, e é através deles que se realiza o principal trabalho das entidades do Catimbó, a cura de doenças e a receita de remédios para os males físicos, podendo também ocorrer trabalhos para solucionar alguns problemas materiais e amorosos. Cabe também aos Mestres e aos Caboclos realizar a limpeza espiritual dos adeptos e a expulsar maus espíritos das pessoas. Os Mestres são entidades que se especializam em determinada erva ou raiz e que guardam muito do comportamento e personalidade de sua última encarnação, o que os torna muito naturais e espontâneos, além de possuírem uma forte ligação com a sua caracterização física. Uma característica que chama a atenção é que não existem Mestres do bem ou do mal: eles tanto podem trabalhar para um quanto para o outro, dependendo da orientação do local de culto e do médium.


Ao longo dos séculos XVII e XVIII cresce consideravelmente o número de cidades em todo o país, devido a esse fato, surge uma situação completamente nova em todo o território colonial: o aumento do número de negros e mulatos alforriados, livres, e de escravos circulando com relativa liberdade nessas áreas urbanas. A partir das residências desses negros e mulatos livres, localizadas em sua grande maioria em casebres e cortiços, que as manifestações religiosas de origem africana encontraram condições mínimas para se desenvolverem, onde poderiam realizar suas festas com certa freqüência, construírem e preservarem seus altares com os recipientes consagrados aos seus deuses. São nessas residências que surgem, em fins do século XVIII e início do século XIX, uma nova manifestação sincrética brasileira, que ficou conhecida na Bahia como CASAS DE CANDOMBLÉ.




O Candomblé surge então com base no fortalecimento das tradições religiosas dos bantos preservadas no sincretismo com o Calundu e a assimilação de algumas poucas práticas indígenas que sobreviviam nos quilombos e nas aldeias indígenas dos arredores deles. Pelo fato de servirem como moradia e também como locais de culto, as Casas de Candomblé se estruturavam com base em famílias-de-santo, que estabelecia entre seus adeptos uma espécie de parentesco religioso, característica que foi um importante legado a outras religiões sincréticas que se originaram a partir dele.
Já a partir da década de 1840 intensifica-se o tráfico de escravos da etnia sudanesa através da “Rota da Mina”, que tinha como origem os portos africanos de Lagos, Calabar e, principalmente São Jorge da Mina, superando no período todas as demais em termos de escravos trazidos ao Brasil. A etnia sudanesa era originada principalmente da África Ocidental, na região onde hoje está localizado a Nigéria, Benin, Togo e Gana, e é formada pelos povos Iorubá, Ewe, Fon e Mahin, entre outros.


Apesar de inicialmente muitos terem ficado conhecidos apenas como mina, ao longo do século XIX os escravos da etnia sudanesa passaram a ser conhecidos sobre outra nomenclatura, devido a rivalidade e a diferença cultural existente entre os povos Iorubá e Ewe/Fon, que foi transportada da África para o Brasil junto com eles. Dessa forma, o povo Yorubá passou a ser conhecido no Brasil como mina-nagô ou nagô, enquanto os povos Ewe, Fon e Mahin ficaram conhecidos como mina-jeje ou jeje, termo que advém do iorubá adjeje que significa estrangeiro ou forasteiro, e era usada de forma pejorativa pelos yorubás para designar as pessoas que habitavam a leste de seu território.


Os nagôs que foram trazidos para o Brasil cultuavam um deus supremo chamado de Olorun ou Olodumaré e a natureza também deificada e personificada nas divindades chamadas Orixás. Apesar de na África existirem cerca de 400 Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo poucos os que possuíam um culto em várias localidades.


Assim como ocorreu com os bantos, os escravos sudaneses trouxeram para o Brasil parte de sua cultura e de suas crenças religiosas, que foram pouco a pouco levadas para dentro de algumas manifestações sincréticas aqui existentes, devido aos escravos fugidos que buscavam refúgio nos quilombos e depois aos negros já alforriados, levando ao aparecimento de diversas religiões sincréticas em solo brasileiro no século XIX, muitas delas com base nas Casas de Candomblé.


Com a intensificação da adição de elementos sudaneses às Casas de Candomblés no séc. XIX, estas acabaram por darem origem a uma nova religião sincrética brasileira conhecida como CANDOMBLÉ DE NAÇÃO, ao qual agrega dentro de si três modelos de culto relacionados às principais etnias e povos trazidos como escravos para o Brasil: os bantos, os sudaneses nagôs e os sudaneses jeje.


Vejamos então como são esses modelos existentes:


1º- Os Candomblés de Nação Angola, Congo e Muxicongo cultuam um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo) e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Nkises. Apesar de na África existirem cerca de 450 Voduns, e a exemplo do que ocorre com os Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo também poucos os que possuíam um culto em várias localidades.

Vejamos no quadro abaixo os principais Nkises cultuados nesses Candomblés:




NKISES
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Nzambi ou Zambi
Deus supremo
Mpungu (todo poderoso) e muambi (criador) são qualidades de Nzambi

Lembá
Nkise da paz, conectado à criação do mundo



Kaitumbá, Kokueto e Mikaiá
Nkise dos mares e oceanos



Nkosi
Nkise da guerra, senhor dos caminhos, das estradas e da metalurgia
Mukumbe, Biolê e Buré são qualidades desse Nkise

Teleku-Mpensu
Nkise da pesca



Gongobira
Nkise da caça e da pesca



Kabila
Nkise do pastoreio e da caça



Mutakalambo
Nkise da caça e da comida abundante



Katende
Nkise das folhas e dos segredos das ervas medicinais



Nvunji
Nkise da justiça, da felicidade da juventude e do nascimento das crianças



Nzazi ou Zazi
Nkise dos raios e da entrega de justiça aos humanos



Luango
Nkise dos trovões e auxiliar de Nvunji no nascimento de crianças



Kaiangu
Nkise guerreira dos ventos, das tempestades e que possui domínio sobre os espíritos dos mortos
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula são qualidades desse Nkise

Kitembo ou Tempo
Nkise do tempo e das estações
Patrono da nação Angola, representado por um mastro com uma bandeira branca

Nzumbarandá ou Zumbaradá
Nkise da terra molhada, da água turva dos pântanos, ligada à morte e a mais velha dos Inquices



Kisimbi, Samba Nkise
Nkise de lagos e rios, a grande mãe



Ndanda-Lunda
Nkise da água potável, das águas calmas, da lua e da fertilidade



Hongolo ou Angorô
Nkise do arco-íris, auxilia na comunicação entre os humanos e os outros Inquices
Na sua manifestação feminina é chamado de Hongolo Meia ou Angoroméa. Representado por uma cobra

Kafungê e Kaviungo ou Kavungo
Nkise da varíola, das doenças, da saúde e da morte



Nsumbu
Nkise da terra
Nação Angola

Ntoto
Nkise da terra
Nação Congo

Aluvaiá, Vangira, Pambu Njila e Bombo Njila
Nkise mensageiro, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas e templos


2º- Os Candomblés de Nação Ketu, Efã e Ijexá cultuam um deus supremo chamado de Olorun ou Olodumaré e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Orixás. Um fato que chama a atenção é que algumas divindades que originalmente eram Voduns na África foram adicionadas ao panteão nagô e passaram a fazer parte do ritual, sendo inclusive consideradas no Brasil como Orixás.

Vejamos então no quadro abaixo alguns Orixás cultuados nesses Candomblés:




ORIXÁS
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Olorum ou Olodumaré
Deus supremo



Oxaguiã
Orixá da criação da cultura material e da sobrevivência.
Considerado a manifestação jovem de Oxalá (ou Obatalá).
Originalmente, na África, é filho de Oxalufã e neto de Obatalá.

Oxalufã
Orixá da criação da humanidade, do sopro da vida
Considerado a manifestação idosa de Oxalá (ou Obatalá). Originalmente, na África, é o filho de Obatalá.

Yemanjá
Orixá das grandes águas, do mar e do oceano, da maternidade, da família e da saúde mental



Ogum
Orixá da metalurgia, da agricultura, da tecnologia, das estradas e da guerra



Xangô
Orixá do trovão e da justiça



Oxóssi
Orixá da fauna, da caça e da fartura de alimentos
É também conhecido como Odé.

Ossaim
Orixá da vegetação e da flora, da eficácia dos remédios e da medicina



Nanã
Orixá da lama do fundo das águas, dos pântanos, da educação, da velhice e da morte
Originalmente, na África, era um Vodum e não um Orixá.

Ewá
Orixá das fontes, nascentes e riachos e da harmonia doméstica
Originalmente, na África, era um Vodum e não um Orixá.

Logun Edé
Orixá dos rios que correm nas florestas



Obá
Orixá dos rios, dos trabalhos domésticos e do poder da mulher



Oyá
Orixá do relâmpago, da sensualidade e dona dos espíritos dos mortos
É também chamada de Iansã.

Oxum
Orixá da água doce, do amor, da fertilidade, da gestação, dos metais preciosos e da vaidade



Oxumarê
Orixá do arco-íris e da riqueza que provém das colheitas







Obaluaiê
Orixá da varíola, pragas, doenças e da cura de doenças físicas




É também chamado de Omulu ou Xapanã. Originalmente, na África, Obaluaiê e Omulu é, respectivamente, a manifestação jovem e velha do Vodum Xapanã.

Orunmilá-Ifá
Orixá do destino





Exu




Orixá mensageiro, da transformação e da potência sexual, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas


3º- Os Candomblés de Nação Jeje-Fon e Jeje-Mahin cultuam uma deusa suprema chamada de Mawu e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Voduns. Tais divindades são agrupadas em famílias (Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso, etc.), as quais se subdividem em linhagens, interligadas entre si por comportamentos, costumes, gostos e atitudes. Apesar de existir na África cerca de 450 Voduns, a grande maioria não é cultuada aqui no Brasil. Os que aqui são cultuados, somente alguns chegam a ter culto a nível nacional, ficando a maioria restrita a nível regional. Uma característica dessa Nação é que quando estão incorporados, os Voduns mantêm os olhos abertos e conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos e recados. Vejamos então no quadro abaixo, alguns Voduns cultuados no Candomblé de Nação Jeje- Fon e Jeje-Mahin:





VODUNS
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Nanã Buluku
A grande mãe universal, senhora da lama
Mãe de Mawu e Lissá

Mawu
Deusa suprema



Lissá
Vodum masculino co-responsável pela criação junto com Mawu



Loko
Primogênito dos Voduns



Agassu
Vodum que representa a linhagem real do Reino do Daomé



Agbê
Vodum dono dos mares



Gu
Vodum dos metais, da guerra, do fogo e da tecnologia.



Agué
Vodum da caça e protetor das florestas



Aguê
Vodum que representa a terra firme



Ayizan
Vodum dona da crosta terrestre e dos mercados



Aziri
Vodum das águas doces



Dan
Vodum da riqueza
Representado pela serpente e pelo arco-íris

Eku
Vodum da morte, da feitiçaria e da clarividência



Fa
Vodum da adivinhação e do destino



Hevioso
Vodum dos raios e relâmpagos



Possun
Vodum do pó e da terra seca
Representado pelo tigre

Sakpatá
Vodum da varíola



Legba
Vodum das entradas e das saídas e da sexualidade
O filho caçula de Mawu e Lissá



Dentre todos os Candomblés de Nação, sejam eles do modelo de culto banto, sudanês nagô ou sudanês jeje, o que apresenta maior projeção nacional é o Candomblé de Nação Ketu. Tal projeção tem provocado, atualmente, um fenômeno de assimilação das práticas rituais dessa nação pelas demais, como o idioma e as cantigas utilizadas, a forma como os atabaques são tocados e o culto as divindades. Sobre este aspecto, é interessante notar o sincretismo que tem surgido atualmente dos Nkises e dos Voduns com as lendas, histórias, domínios, cores e símbolos dos Orixás da nação Ketu, como se aqueles fossem estes com nomes diferentes. Nos Candomblés de Nação do modelo nagô existe ainda o culto aos eguns, ou espíritos dos ancestrais, que ocorre no quarto de balê, um recinto separado do local onde se cultua os Orixás, e que possui um sacerdote próprio, chamado de Baba Ojé, preparado especialmente para este tipo de culto.

Atualmente um fenômeno interessante que parece ter surgido no Candomblé de Nação Ketu, e dele se espalhado para as demais nações, é o movimento de recuperação das raízes africanas, o qual vem rejeitando o sincretismo com o catolicismo e com as práticas indígenas buscando o aprendizado da língua nativa e a redescoberta dos ritos, histórias e lendas das divindades que se perderam ao longo do tempo, contando, inclusive, com viagem de sacerdotes do Brasil até a Nigéria e o Benin a fim de realizarem pesquisas “in loco” 11 em aldeias e templos na África para aprenderem os rituais que foram perdidos nas brumas do tempo da escravidão.

No final do século XIX e início do século XX, tradições religiosas da etnia sudanesa foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-católico-ameríndio existentes também no Rio de Janeiro, levando ao surgimento dos sincretismos conhecidos como ZUNGU e MACUMBA.

Parece que os termos Zungu e Macumba foram usados indistintamente no Rio de Janeiro para designar quaisquer manifestações sincréticas de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia, englobando uma grande variedade de cerimônias que associavam elementos africanos (Nkises, Orixás, atabaques, transe mediúnico, trajes rituais, banho de ervas, sacrifícios de animais), católicos (cruzes, crucifixos, anjos e santos) e, mais raramente, indígenas (banho de ervas, fumo). A diferença básica entre eles parece ser apenas o período em que estes termos foram utilizados: zungu, em meados do século XIX e macumba, no final do século XIX e início do século XX substituindo o termo zungu.

Na Macumba o chefe de culto e o seu ajudante eram chamados, respectivamente, de embanda e cambone, embora este último também pudesse ser chamado de cambono. Parece que os iniciados na Macumba eram chamados de filhos(as)-de-santo ou médiuns.

O que se sabe sobre os rituais da Macumba é que as entidades como os orixás, Nkises, caboclos e os santos católicos eram agrupados por falanges ou linhas como a linha da Costa, de Umbanda, de Quimbanda, de Mina, de Cabinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, linha Cruzada, etc; e que quanto maior o número de linhas cultuadas pelo embanda, mais poderoso ele era considerado, uma vez que isso era tido como sinal de maior conhecimento sobre o mundo dos espíritos.

E assim como em outros sincretismos brasileiros, o Zungu e a Macumba eram organizados basicamente em torno de seu chefe de culto, fazendo de cada unidade de culto algo único, diferindo dos demais por um ou mais elementos ritualísticos. Devido a grande penetração que a Macumba tinha na população mais pobre e marginalizada do Rio de Janeiro de fins do século XIX, principalmente os afrodescendentes recém libertos pela Lei Áurea, seu nome acabou se popularizando por todo o país e até hoje ainda é usado para designar pejorativamente qualquer religião afro-brasileira ou ritual que envolva magia.

É provável que a Macumba tenha desaparecido do cenário religioso carioca devido ao aparecimento mais tarde da Umbanda e a sua rápida expansão no estado do Rio de Janeiro, principalmente na então capital federal, que teria atraído para si um expressivo número de adeptos da Macumba e a influenciado de tal forma que levaram muitas casas de Macumba a se transformarem em tendas de Umbanda ou em casas de Omolokô para fugirem da repressão que se tinha a esses cultos.

Mudanças na estrutura de algumas casas de Macumba do Rio de Janeiro, então capital do país, neste mesmo período, acabam levando ao surgimento de duas religiões sincréticas o OMOLOKÔ e “ALMAS E ANGOLA”, que guardam muitas semelhanças com algumas vertentes da Umbanda, inclusive existindo muitas casas que se reconhecem como sendo de “Umbanda Omolokô” ou Umbanda em “Almas e Angola”.

No Omolokô que é praticado hoje em dia o ritual recebeu forte influência das obras daquele que é considerado o seu organizador: Tatá Ti Nkise Tancredo da Silva Pinto. Segundo ele, o Omolokô tem como origem as práticas religiosas dos bantos das tribos Quiôcos, das províncias de Lunda Norte e Lunda Sul, situadas na região oriental de Angola e que também pode ser encontrados em parte da República Democrática do Congo e da Zâmbia.



O Omolokô cultua um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo), a natureza deificada personificada nos Orixás e nas entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianças, Exus e Pomba-giras.

Originalmente o termo utilizado no Omolokô para designar a natureza deificada era Bacuro. Os Bacuros possuíam um correspondente nas divindades dos Quiôcos, que parecem terem ficado conhecidas aqui no Brasil como Lunda. Atualmente o termo Bacuro e o nome das divindades Quiôcos foram substituídos, respectivamente, pelo termo Orixá e pelo nome das divindades do panteão nagô que possuem os mesmos atributos ou arquétipos. É importante ressaltar que, no Omolokô, o termo Orixá é utilizado também para designar alguns Nkises que foram incorporados ao seu panteão, provavelmente por influência dos Candomblés de Nação do modelo de culto banto.

Vejamos então no quadro abaixo como é a correspondência entre as divindades Lunda, Bacuros e os Orixás no Omolokô:





Lunda (divindades dos Quiôcos)
Bacuro (nome original no Omolokô)
Orixá (nome atual no Omolokô)

Dundu Kianguim
Aluvaiá
Exu



Angorô
Oxumarê

Dandu Kindelé
Burunguça
Omulu



Caculu ou Cabasa
Ibeiji



Cuiganga
Ewá

Anili Kindelé
Dandalunda
Yemanjá

Kindele
Ferimã
Oxalá

Uisu Kukusuka
Inhapopô
Iansã

Kianguim Kindelé
Jambangurim
Xangô

Mulombe
Kamba Lassinda
Oxum

Kianguim Uisu
Kangira
Ogum



Karamocê
Obá



Katendê
Ossaim

Uisi
Madé
Oxóssi

Diambanganga
Pagauô
Irôko

Numba Kindelé
Querequerê
Nanã



Teleku-Mpensu
Logun Edé



Kitembu
Tempo




Uma possível influência da Umbanda sobre o Omolokô é a existência de uma separação dos Orixás em duas classes: Orixás Maiores e Orixás Menores. Os Orixás Maiores, ou apenas Orixás, são entendidos como sendo uma energia emanada de Zambi e portanto nunca passaram pelo processo de encarnação. São os responsáveis pelo movimento da natureza e pela formação e manutenção da vida. São considerados onipresentes e únicos. Os Orixás Menores, por sua vez, são entendidos como espíritos que passaram pelo processo de reencarnação e que alcançaram uma grande elevação espiritual e que por isso foram dotados de poderes sobrenaturais pelos Orixás Maiores, sendo considerados os intermediários entre estes últimos e os demais espíritos. Por este motivo, eles utilizam o nome do Orixá Maior ao qual estão subordinados seguidos de um sobrenome, chamado de Dijina12, por exemplo: Ogum Beira Mar, Seria um Orixá Menor subordinado do Orixá maior Ogum.

No Omolokô não existe incorporação de Orixás Maiores, apenas dos Orixás Menores e dos espíritos chamados de eguns. Os eguns aqui espíritos que já possuem certa compreensão espiritual, porém ainda não alcançaram a elevação dos Orixás Menores. São considerados eguns: os Caboclos, os Preto-Velhos, as Crianças, os Exus e as Pombas-gira. Existe ainda uma terceira classe de espíritos, chamados de quiumbas ou kiumbas, que são entendidos como espíritos atrasados e que ainda não alcançaram uma compreensão das coisas espirituais.

Já a religião sincrética conhecida como “ALMAS E ANGOLA”, que apesar de ser originária da capital fluminense, atualmente não é mais praticado nesse estado, hoje em dia podemos encontrá-la quase que exclusivamente na região da grande Florianópolis, em Santa Catarina.

A religião “Almas e Angola” guarda muita semelhança com o Omolokô e com algumas vertentes da Umbanda, ela cultua um deus supremo chamado Zambi, mas em algumas casas também é chamado de Olorum, a natureza deificada personificada nos Orixás e as entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianças, Exus e Pombas-gira. O Orixá Obaluaiê é considerado a força maior do ritual de “Almas e Angola”, tendo destaque nos altares dessa religião.



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5- Antropofagia: Aqueles que comem carne humana 6- Tupã Cinunga: “O trovão”. 7- Tupã Beraba: “O relâmpago”. 8- Tupã: “Golpe estrondeante” ou “Baque estrondeante”. 9- Iurupari: O mártir ou o sacrificado. 10- Quilombo: Um quilombo era um local de refúgio dos escravos no Brasil, em sua maioria afrodescendentes (negros e mestiços), havendo minorias indígenas e brancas. O mais famoso na História do Brasil foi o de Palmares. 11- In Loco: Termo do Latim que significa no local. 12- Dijina: Palavra de origem kimbundo “Rijina”, dialeto bantu que significa "nome" ou “apelido”.



Texto retirado do Livro “Sincretismos Religiosos Brasileiros” - Renato Henrique Guimarães Dias.




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