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História da Umbanda

Publicado em 23/05/2012

História da Umbanda

A pesquisa aqui apresentada, visa unicamente discorrer sobre os vários aspectos da Religião de Umbanda sob o prisma dos seus estudiosos, a fim de conhecer e direcionar os conceitos estudados à realidade individual de cada um, sem emitir nenhum tipo de julgamento, respeitando sempre a diversidade de pensamentos da nossa amada religião.

Umbanda é uma religião diversificada, que utiliza elementos de outras religiões, como Catolicismo, Espiritismo, Candomblé e a religiosidade indígena.

O termo "Umbanda" significa "magia que cura" (Heli Chaterlain - Contos Populares de Angola - 1889).

As raízes da Umbanda são difusas. A mais aceita foi a criada em 1908, pelo médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência do Caboclo das Sete Encruzilhadas:

UMBANDA TRADICIONAL

No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem rapaz com 17 anos de idade, que preparava-se para ingressar na carreira militar na Marinha, começou a sofrer estranhos "ataques". Sua família, conhecida e tradicional na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, foi pega de surpresa pelos acontecimentos.

Esses "ataques" do rapaz eram caracterizados por posturas de um velho, falando coisas sem sentido e desconexas, como se fosse outra pessoa que havia vivido em outra época. Muitas vezes assumia uma forma que parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.

Após examiná-lo durante vários dias, o médico da família recomendou que seria melhor encaminhá-lo a um padre, pois o médico (que era tio do paciente), dizia que a loucura do rapaz não se enquadrava em nada que ele havia conhecido. Acreditava mais, era que o menino estava endemoniado.

Alguém da família sugeriu que "isso era coisa de espiritismo" e que era melhor levá-lo à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza. No dia 15 de novembro, o jovem Zélio foi convidado a participar da sessão, tomando um lugar à mesa.

Tomado por uma força estranha e alheia a sua vontade, e contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Saiu da sala indo ao jardim e voltando após com uma flor, que colocou no centro da mesa. Essa atitude causou um enorme tumulto entre os presentes. Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas espíritos que se diziam pretos escravos e índios.

O diretor dos trabalhos achou tudo aquilo um absurdo e advertiu-os com aspereza, citando o "seu atraso espiritual" e convidando-os a se retirarem.

Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e através dele falou: −"Porque repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Será por causa de suas origens sociais e da cor ?"

Seguiu-se um diálogo acalorado, e os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura.

Um médium vidente perguntou: − "Por quê o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? Por quê fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome irmão?

− "Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim, não haverá caminhos fechados."

− "O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro."

Anunciou também o tipo de missão que trazia do Astral:

− "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que estes irmãos poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir missão que o Plano Espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”

O vidente retrucou: −"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto" ? perguntou com ironia. E o espírito já identificado disse:

− "Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei".

Para finalizar o caboclo completou:

− "Deus, em sua infinita Bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornariam iguais na morte, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por quê não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas socialmente importantes na Terra, também trazem importantes mensagens do além?"

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera; estavam os parentes mais próximos, amigos, vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20:00 h, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.

A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal deste culto, que teria por base o Evangelho de Jesus.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias, das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava: UMBANDA – Manifestação do Espírito para a Caridade.


Tenda Espírira Nossa Senhora da Piedade
A Casa de trabalhos espirituais que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou a parte prática dos trabalhos.

O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas.

Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras:

"− Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá."

Após insistência dos presentes fala:

"− Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego."

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:

"− Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá."

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos etc. vinham em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.

O pai de Zélio frequentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma, em tom de brincadeira respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Bárbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge; e Tenda Espírita São Gerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das mencionadas.

E sempre que possível, ele mesmo acompanhava toda a fundação, indo a diversos estados para realizar a abertura delas.Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda.

A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Embora não seguindo a carreira militar para a qual se preparava, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento de sua família e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

Ministros, industriais, e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos e os vendo recuperados, procuravam retribuir o benefício através de presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.

A respeito do uso do termo espírita e de nomes de santos católicos nas tendas fundadas, o mesmo teve como causa o fato de naquela época não se poder registrar o nome Umbanda, e quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da Umbanda. O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples, com cânticos baixos e harmoniosos, vestimenta branca, proibição de sacrifícios de animais. Dispensou os atabaques e as palmas. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não seriam aceitos. As guias usadas são apenas as que determinam a entidade que se manifesta. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza, a par do ensinamento doutrinário, na base do Evangelho, constituiriam os principais elementos de preparação do médium.

O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou quaisquer outros objetos e adereços.

Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje.

Casou-se muito cedo com Maria Izabel de Moraes para que não se perdesse nos prazeres da vida, tiveram quatro filhos, sendo eles Zélio, Zélia, Zarcy e Zilméia.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade (1º templo de Umbanda), Zélio entregou a direção dos trabalhos às suas filhas Zélia e Zilméa, continuando, ao lado de sua esposa Isabel, médium do Caboclo Roxo, a trabalhar na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu – RJ, dedicando a maior parte das horas de seu dia, ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e de todos os que o procuravam.

Já com mais idade, e com a saúde debilitada, voltou a Niterói-RJ para tratamento médico. Preparado pelos seus guias espirituais e prevendo a sua morte, um dia antes de fazer sua passagem, entregou a guia do Caboclo das Sete Encruzilhadas para sua filha Zilméia. Zélio faleceu no dia 03 de outubro de 1975 aos 84 anos, sendo sepultado no Cemitério de Maruí, em São Gonçalo."

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz. Ei-la: "A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem.

É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô.

Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda. Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda.

A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou.

Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.

Que o nascimento de Jesus, a humildade que ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à Umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 03 de outubro de 1975, com a certeza de missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação através de suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela Umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.

Foram fundadas mais sete Tendas sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas:

Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, fundada por Gabriela Dionysio Soares e posteriormente dirigida por Antonio Eliezer Leal de Souza em 1918;

Tenda Espírita São Pedro, dirigida por José Meirelles;

Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia de Oxossi, dirigida por Dorval Vaz;

Tenda Espírita Santa Bárbara, dirigida por João Salgado;

Tenda Espírita Oxalá, dirigida por Paulo Lavóis;

Tenda Espírita São Jorge, dirigida por João Severino Ramos, médium de Ogum Timbiri em 1935.

Tenda Espírita São Jerônimo, dirigida por Capitão José Álvares Pessoa, também em 1935.

Zélio de Moraes não escreveu nada sobre si ou sobre a religião que teve seu inicio em 15 de Novembro de 1908.

Em 1904, o livro “As Religiões do Rio”, escrito por João do Rio, apresenta um estudo aprofundado dos cultos no Rio de Janeiro e em momento algum aparece a palavra Umbanda, o que endossa que nem a religião de Umbanda, nem a palavra, eram presentes no Rio de Janeiro, onde nasceu a Umbanda.

Os primeiros textos sobre a Umbanda aparecem em um livro chamado “No Mundo dos Espíritos”, em 1925, uma coletânea de reportagens feitas pelo Jornalista Leal de Souza para o vespertino da época chamado “A Noite”, onde aparece, entre outras, uma reportagem do Centro Tenda Nossa Senhora da Piedade com o Médium Zélio de Moraes.

Leal de Souza era médium na Tenda Nossa Senhora da Piedade e por orientação de Zélio de Moraes e do Caboclo das Sete Encruzilhadas, se tornaria o dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição.

O primeiro livro de Umbanda foi publicado em 1933 por Leal de Souza e recebeu o nome de “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda”, neste livro há um capitulo (Cap. 23) intitulado “O Caboclo das Sete Encruzilhadas”, onde o autor que conviveu muitos anos com o fundador da Umbanda fala um pouco sobre a entidade, veja abaixo:

“Se alguma vez tenho estado em contato consciente com algum espírito de luz, esse espírito é, sem duvida, aquele que se apresenta sob o aspecto agreste, e o nome bárbaro de Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Sentindo-o ao nosso lado, pelo bem estar espiritual que nos envolve e sensibiliza, pressentimos a grandeza infinita de Deus, e, guiados pela sua proteção, recebemos e suportamos os sofrimentos com uma serenidade quase ingênua, comparada ao enlevo das crianças, nas estampas sacras, contemplando a beira do abismo, sob as asas de um anjo, as estrelas do Céu.

O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum, e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima; - A flecha significa a direção, o coração é o sentimento e o conjunto – orientação dos sentimentos para o alto, para Deus...

Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram, e não poucas vezes, escorrendo pela face do médium, as suas lágrimas expressam a sua tristeza, diante dessas provas inevitáveis a que as criaturas não podem fugir...

A linguagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas varia, de acordo com a mentalidade de seus auditórios. Ora chã, ora simples, sem um atavio, ora fulgurante nos arrojos da alta eloqüência, nunca desce tanto, que se abastarde, nem se eleva demais, que se torne inacessível.”

As Sete Linhas "Assim, seguindo a Lei difundida pelo Caboclo das Setes Encruzilhadas, trabalhamos com 7 Linhas Brancas, a saber: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá (oxum e nanã), Iansã e Exú.

Enquanto os Caboclos atuam integrados a estas Sete Linhas, a Linha dos Pretos Velhos se manifesta dividida em vários ramos ou “Povos” (de Angola, do Congo, de Cambinda, de Banguela, de Minas Gerais, da Bahia, etc...) Temos ainda as Falanges das Crianças, do Oriente, das Almas, de Omulú (a Morte – o Velho) e de Abaluaiê (a Vida – o Novo), cada uma delas atuando em diversas faixas vibratórias específicas e delimitadas, condizentes com as determinações do Astral Superior. Na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, as Falanges de Marinheiros e Boiadeiros apresentam-se integradas aos Caboclos.

Todo este conjunto, dividido hierarquicamente em linhas, legiões, falanges, agrupamentos, grupos, mentores, guias e protetores, operam em absoluta harmonia entre si, situando-se dentro das vibrações energéticas (ou faixa de energia) que lhes são mais harmônicas. Embora se apresentem como trabalhadores humildes e incultos, em sua grande maioria são espíritos de adiantado estágio evolutivo."

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UMBANDA ESOTÉRICA

Segundo Roger Feraudy, "a Umbanda surgiu há 700.000 anos em dois Continentes perdidos: Lemúria e Atlântida, que teriam afundado no oceano em um cataclismo planetário, os quais teriam sido os locais em que terráqueos e seres extra-terrestres teriam vivido juntos e onde estes teriam ensinado àqueles sobre o "Aumpram" (Umbanda) a verdadeira Lei Divina."

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No início do século XX a Umbanda foi muito perseguida diante do preconceito a toda religião que tivesse semelhança com os rituais africanos. Os Terreiros eram destruídos e os praticantes presos. Entre os inúmeros episódios desse tipo, destacou-se, por exemplo, o da chamada "Quebra de Xangô", em Maceió, Estado de Alagoas, a 2 de fevereiro de 1912. Em uma ação organizada pela Liga dos Republicanos Combatentes, os mais importantes Terreiros de Xangô foram destruídos na Capital Alagoana, tendo Pais de Santo e religiosos sido espancados e imagens de cultos destruídas.

Em 1939 é fundada a Federação Espírita de Umbanda, que em 1941, promoveu o Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda.

Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de Umbanda fundadas inicialmente pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, obteve junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.

Estas perseguições levaram ao medo fazendo com que os umbandistas camuflassem suas práticas com o verniz de outras religiões, como o Espiritismo codificado por Alan Kardec, muitos umbandistas até hoje se dizem espíritas.


Dentre as ramificações da Umbanda hoje existentes, destacam-se:

Umbanda Tradicional (Zélio de Moraes / Caboclo das Sete Encruzilhadas)

Umbandomblé ou Umbanda Traçada (Influência do Candomblé)

Umbanda Esotérica (Woodrow Wilson da Mata e Silva / Pai Guiné de Angola)

Umbanda Esotérica Iniciática (Benjamin Gonçalves Figueiredo / Caboclo Mirim)

Jurema Sagrada (Dos Mestres Juremeiros - Tradição Nordestina)

Umbanda Branca ou de mesa (Influência da Doutrina Espírita Kardecista)

Umbanda Universalista (Aceita todas as formas de Umbanda)

Omolokô (Tancredo da Silva Pinto)

Umbanda Guaracyana (Sebastião Gomes de Souza / Caboclo Guaracy)

Umbanda Aumpram (Roger Feraudy / Pai Tomé)

Umbanda Eclética Maior (Oceano de Sá ou Mestre Yokaanam)

Umbanda dos Sete Raios (Ney Nery dos Reis / Israel Cysneiros)

Umbandaime (Sebastião Mota de Melo)

Umbanda Proto-Síntese Cósmica (Francisco Rivas Neto)

Umbanda Sagrada ( Rubens Saraceni / Pai Benedito de Aruanda)


A Umbanda é conhecida, erroneamente, pelo termo "macumba", que nada mais é do que um instrumento musical usado durante as giras, que as pessoas se referiam da seguinte forma: "estão batendo a macumba..." ficando então conhecidas as giras como "macumbas" ou culto omolokô. Com o passar do tempo, tudo que envolvia algo que não se enquadrava nos ensinamentos impostos pelo Catolicismo, Protestantismo e outras religiões, era considerado "macumba"; com isso, acabou por virar um termo pejorativo.

A Umbanda é uma religião livre, cujos conceitos são passados oralmente, de geração a geração, dessa forma, a sua ritualística e fundamentação é adaptada a cada pensamento que forma uma vertente dentro da religião. Diante de determinado tema existem diversas interpretações, dessa forma deve-se ter o cuidado ao selecionar o que melhor lhe convier, porém, existem alguns conceitos básicos que são encontrados na maioria das Casas, São eles:

1) A existência de um Princípio Criador – DEUS, O Onipotente e Irrepresentável; chamado Zambi. Algumas das entidades, quando incorporadas, podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo Tupã para caboclos, entre outros, mas são todos o mesmo Deus;

2) A manifestação trina do Princípio Criador, dentro da visão Naturalista e Espiritualista;

3) A Crença nos Orixás dos Cultos Afro-Brasileiros e nas Linhas da Umbanda;

4) A existência de entidades espirituais, mensageiros das vibrações dos Orixás, ainda em evolução, buscando o aperfeiçoamento; A manifestação dos Guias para exercer o trabalho espiritual incorporado em seus médiuns ou "aparelhos", também chamados de "cavalos";

5) A Reencarnação e a Lei do Carma;

6) A existência do Espírito, sobrevivendo ao Homem, em caminho da evolução, buscando o aperfeiçoamento;

7) A prática da mediunidade em suas diversas manifestações;

8) O Amor, manifestado como Caridade, na palavra e na ação; A obediência aos ensinamentos básicos dos valores humanos, como: fraternidade, caridade e respeito ao próximo. Sendo a caridade uma máxima encontrada em todas as manifestações existentes;

9) A afirmação de que o Homem VIVE NUM Campo Vibratório, sendo Ele próprio um Campo Vibratório que o seu Livre Arbítrio comanda, dentro do princípio da natureza trina: Espírito, Alma e Corpo;

10) Uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual que é seguida em cada casa de forma variada e diferenciada, mas que existe para nortear os trabalhos de cada terreiro;

11) A Umbanda possui identidade própria e não se confunde com outras religiões ou cultos, embora a todos respeite fraternalmente, partilhando alguns princípios com muitos deles;

12) A Umbanda está a serviço da Lei Divina e só visa ao bem. Qualquer ação que não respeite o livre-arbítrio das criaturas, que implique em malefício ou prejuízo de alguém ou se utilize de magia negativa, não é umbanda;

13) A Umbanda não realiza em qualquer hipótese o sacrifício ritualístico de animais nem utiliza quaisquer elementos destes ritos em oferendas, ou trabalhos;

14) A Umbanda não preconiza a colocação de despachos ou oferendas em esquinas urbanas e sua reverência às forças da natureza implica preservação e respeito a todos os ambientes naturais da Terra;

15) Todo serviço da Umbanda é de caridade, jamais cobrando ou aceitando retribuição de qualquer espécie por atendimentos, consultas ou trabalhos. Quem cobra por serviço espiritual não é umbandista;

Ednay Melo

Fontes de Pesquisa:

Umbanda Essa Desconhecida - Roger Feraudy
Contos Populares de Angola - Heli Chaterlain
Trecho extraído do site Sociedade Espiritualista Mata Virgem
Trecho extraído do site Federação Brasileira de Umbanda
Umbanda por Fernando Sepe
Site Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade
Trecho extraído do JUS - Jornal de Umbanda Sagrada



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