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08/10/2018

A Semeadura de uma Religião: Os Orixás

A Semeadura de uma Religião: Os Orixás


Muito se tem escrito sobre os sagrados orixás, e muito ainda terão de escrever, já que os orixás são mistérios divinos e, dependendo de quem os descreve, assumem as mais diversas feições. E, ainda que mantenham suas qualidades essências de “essência”) ou elementais (de “elemento”), no entanto cada um os descreve como os interpreta, entende ou idealiza.

As idealizações, ainda que sejam divergentes, são necessárias, pois, mais dias menos dias, uma delas se imporá em definitivo sobre todas as outras e, daí em diante, todos os umbandistas rezarão pela mesma cartilha. Mas enquanto isso não acontecer, não tenham dúvidas que continuarão os estímulos para que lancem idealizações, as mais próximas possíveis do nível consciêncial da maioria dos adeptos de Umbanda.

Os próprios orixás regentes estimulam as idealizações pelos praticantes instrutores, pois ou alcançam uma concepção ideal ou os umbandistas nunca falarão a mesma língua. Lembre-se que a Umbanda é uma religião nova e neste seu primeiro século de vida tudo é experimental. Não pensem que os orixás sagrados estão alheios ao que ocorre, pois não estão.

Eles observam todas as idealizações humanas que tentam torná-los compreensível a todos os umbandistas e têm amparado os idealizadores, não negando a oportunidade de propagarem suas concepções acerca do mistério “Orixás”.

Uns idealizadores são mais felizes e alcançam um número respeitável de adeptos. Mas outros, por causa das inúmeras dificuldades inerentes à missão de semeador de conhecimentos, logo desistem e decepcionam-se com a pouca acolhida aos seus escritos. Isto é assim mesmo e não pensem que com os idealizadores de outras religiões as coisas foram diferentes, pois não foram.

Para não irmos muito longe, saibam que o Cristianismo, em seu início, teve muitos idealizadores e cada um descreveu Jesus Cristo segundo sua visão, concepção, entendimento e compreensão do mistério divino que ele era e é em si mesmo.

Não pensem que para os idealizadores do Cristianismo as coisas foram fáceis, pois eles também não conseguiam se impor sobre a maioria dos cristãos.

Tantos escreveram sobre Jesus Cristo, que foi preciso um concílio para que ordenassem a confusão reinante nos três primeiros séculos da era cristã.

Hoje é fácil para um cristão, ao folhear o Novo Testamento, visualizar um Jesus Cristo divino e humano ao mesmo tempo em que lê suas mensagens ou sermões. Mas será que ele era visualizado assim, facilmente, no início do Cristianismo? É claro que não! O que sustentou a nascente religião foram os prodígios e os fenômenos religiosos (conversões e milagres) que ocorreram por toda parte, e sempre em nome de Jesus Cristo.

Prodígios e fenômenos são as chaves de toda semeadura religiosa e com a Umbanda não seria diferente, pois eles acontecem a todo instante por todo o Brasil e surpreendem os descrentes, os ateus, os zombeteiros e até… os fiéis umbandistas, já acostumados a eles nos seus trabalhos rituais.

Saibam que, em se tratando de coisas divinas, os prodígios e os fenômenos são coisas comuns e acontecem em todas as religiões, pois só assim o senso comum cede lugar à fé e permite que toda uma vida desregrada seja reordenada e colocada na senda luminosa da evolução espiritual e consciêncial.

Afinal, de nada adianta só a teoria sobre os orixás, se as práticas religiosas realizadas em seus nomes não suplantarem o senso comum arraigado como “normal”, religiosamente falando.

Neste aspecto, a Umbanda tem sido pródiga, pois os prodígios de alguns médiuns e os fenômenos realizados pelos mentores espirituais provam a todos que, por trás do visível está o invisível (Deus).

E, se fôssemos listar os prodígios e fenômenos, nunca terminariam porque estão se renovando a todo instante em lugares distantes, e sem qualquer ligação material entre si. Mas se assim é, é porque assim acontece com todas as semeaduras religiosas.

Alguns médiuns mais afoitos endeusam quem realiza prodígios e não entendem que o correto seria meditarem no porquê deles estarem acontecendo. Não percebem que os prodígios visam dar provas concretas dos mistérios ocultos regidos pelos sagrados orixás e que estes visam fornecer meios mais “terra” para a propagação horizontal da religião umbandista.

A Umbanda ainda é muito recente para prescindir dos prodígios e dos fenômenos. E nós esperamos que nunca os dispense, pois as pessoas mais descrentes ou arredias só se convencem da existência dos poderes divinos quando se deparam com os prodígios realizados pelos médiuns.

Aí sim, deixam de lado o senso comum, despertam para a fé e dedicam parte do tempo à religião.

A Umbanda é nova e talvez daqui a uns três séculos os seus dirigentes se reúnam e, tendo muitas idealizações sobre suas mesas, optem por uma que mais fale aos corações dos umbandistas de então.

E porque três séculos demoram para passar, e porque as idealizações existentes até o momento são muito “pessoais”, então vamos colocar a nossa à disposição para análise e, quem sabe, ela possa ser adotada, no todo ou em parte, quando forem comentar nossa religião.

Mas não esqueçam que, se os primeiros cristãos são vistos como exemplo a ser cultivado no campo religioso do Cristianismo pelo seu desprendimento, fé inabalável e tenacidade na defesa da religião que adotaram, vocês, os umbandistas de hoje, serão vistos, no futuro, pela forma que se portarem diante das dificuldades que esta nova religião está encontrando, já que ela é combatida pelas mais velhas com todas as armas, recursos e truculências que tem à disposição.

Afinal, os romanos tinham o circo onde atiravam os cristãos de então aos leões. Os neocristãos de hoje tem à disposição a televisão, onde atiram os umbandistas às hienas mercadoras da fé em Jesus Cristo.

Ou não é verdade que aqueles mercadores de fé, travestidos em “bispos”, divertem-se à custa dos humildes umbandistas, colocados a todo instante diante de inúmeras dificuldades econômicas para levarem adiante, e com dignidade, amor e respeito, a fé nos sagrados orixás, enquanto eles se locupletam à custa do desespero e da aflição de pessoas humildes e de boa fé, que acorrem aos seus templos movidos pelas promessas miraculosas de enriquecimento rápido à custa de um tal “Desafio a Deus?”.

Quem em sã consciência ousaria colocar as questões de fé e religiosidade nesses termos, senão as mesmas hienas famintas que afluíam ao circo romano em busca de prazer? Quem, em sã consciência, ousaria colocar a religiosidade diante de Deus como uma prova de enriquecimento material, senão mercadores da fé? Quem, senão apóstatas, ousariam levantar a Bíblia Sagrada e desafiar Deus a enriquecê-los, se nesta mesma Bíblia estão escritas, com o fogo da Fé, o sangue da Vida e as lágrimas dos humildes, as santificadas palavras de Jesus Cristo: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico (materialista) entrar no reino do céu”.Quem, senão os mercadores do templo, ousariam subverter a pregação de Cristo ao rico, conclamando-o a deixar tudo para trás, inclusive sua ambição, luxuria e apego aos bens materiais, pois só assim poderia segui-lo e conquistar um lugar à direita de Deus Pai?

Irmãos umbandistas, tudo se repete em religião. E, se bem já disse alguém quando disse que da primeira vez é uma tragédia, mas da segunda é uma comédia, então tudo está se repetindo, pois os primeiros cristãos eram lançados aos leões nos circos romanos, já os primeiros umbandistas, que somos nós, estamos sendo lançados às hienas da televisão… dos mercadores do templo, expulsos por Jesus a dois mil anos atrás, mas que, travestidos de neocristãos, estão, até isso, desafiando Deus a enriquecê-los!!!

Que Deus se apiede do espírito destes vis mercadores que envergonham o próprio Jesus Cristo, pois usam de seu santo nome para locupletarem-se à custa do sofrimento humano diante de tantas injustiças sociais, que não são menores do que as que se abatiam sobre a sofrida plebe romana.

Irmãos em Oxalá atentem bem para o que acabamos de externar e fortaleçam sua fé, pois os sagrados orixás são eternos e vocês os estão renovando no meio humano, e renovando a fé e a religiosidade de milhões de irmãos desencantados com as religiões mais velhas e que estão tão comprometidas com o atual estado de coisa, que não conseguem, com os recursos da fé, alterar as injustiças sociais ou despertar a religiosidade no coração de seus fiéis atuais.

Tenham consciência do momento atual de sua religião e portem-se à altura do que de vocês esperam os sagrados orixás, já renovados no Ritual de Umbanda Sagrada. E, creiam, daqui a alguns séculos as hienas terão se calado, pois terão encontrado a resposta de Deus a seus desafios.

Mas até que isso aconteça, fortaleçam sua fé no amor aos sagrados orixás, pois eles são as divindades regentes desse nosso abençoado planeta. E, se são chamados de “encantados” é porque encantam quem a eles se consagra e não se deixa abater pelas críticas sofridas, pelas zombarias achacadas ou pela falta de uma literatura umbandista mais incisiva para o momento atual e mais esclarecedora acerca dos mistérios divinos que são os orixás.

Correspondam ao momento atual de sua religião e, no futuro, quando todos rezarem por uma mesma cartilha, aí se realizarão e dirão: “Meus amados orixás, valeu a pena minha tenacidade, resignação, humildade, amor e fé, pois minha religião prosperou entre os homens!”.

Saravá, meus orixás! Saravá, irmãos em Oxalá!

Fonte: "O Código de Umbanda" – Rubens Saraceni






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