dezembro 2014 - Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca

29/12/2014

A Umbanda não Precisa de Super-Heróis

A Umbanda não precisa de super-heróis

Humildade e caridade: provavelmente são os dois termos que mais se ouve na Umbanda. Constantemente somos lembrados que precisamos praticar a caridade e ser humildes. Ótimo, mas até que ponto realmente colocamos isso em prática?

Acredito que a caridade praticada sem a humildade torna-se vã para aquele que busca a evolução através dela. De que adianta dar passagem às suas entidades, permitir que seu corpo seja um aparelho para que elas ajudem as pessoas e depois cantar aos quatro ventos os seus super-dons mediúnicos?

A Umbanda não precisa de super-heróis. Não precisa de entidades que baixem no terreiro já dizendo "Eu sou a entidade tal e sou chefe da falange" - chefe? Suponhamos que seja realmente, mas será que a entidade tem necessidade disso ou será que isso é vaidade do médium?

Da mesma forma a Umbanda não precisa de entidades que ficam dando demonstração de força, que se viram para a assistência e dizem para uma determinada pessoa: "você não me conhece, mas vou falar tudo sobre você". Mais uma demonstração de que o médium - e não a entidade precisa chamar a atenção. Acredito nos dons das entidades e as respeito muito, mas não consigo engolir a postura de certos médiuns.

Da mesma forma não precisamos de diplomas ou títulos. Quem realiza os feitos são as entidades, nós somos meros instrumentos mediadores. Quem muito quer exibir seus títulos é porque confia mais neles do que na espiritualidade. Lembremos das mães-de-santo do passado, analfabetas, mas que detinham grande conhecimento sobre a espiritualidade, suas mirongas e magias. Hoje por um valor financeiro até irrisório compra-se um diploma de pai ou mãe-de-santo, e isso não te faz melhor que ninguém. O que te faz um verdadeiro dirigente de uma casa espiritual é a sua postura ética, e isso não são as suas entidades que vão lhe dar, por melhores que sejam. Se você não tem ética, não sabe tratar as pessoas com respeito e educação, se não sabe orientar as pessoas com a mesma humildade que um dia necessitou para aprender, se você não tem a firmeza de segurar as demandas contra você e os filhos da casa (lembrando que as demandas muitas vezes vêm através do pensamento, da língua ferina , em tempos de internet, através dos dedos desocupados e covardes também, que digitam quaisquer impropérios contra seus desafetos), você pode ter o título que for, mas de nada adiantará se não tiver humildade, pois sem ela, na Umbanda, você não é ninguém, é só mais um número.

Lembre-se que para aprender a andar um dia você engatinhou. Somente aquele que sabe ajoelhar para aprender um dia terá maturidade para liderar. Lembre-se também que a Umbanda precisa de médiuns verdadeiros. Quem precisa de super-heróis é a Marvel Comics.

Douglas Fersan

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26/12/2014

Cartas Psicografadas do Chico




Cartas de Chico Xavier

Pesquisa cientifica realizada por núcleo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) concluiu que informações contidas em lote de cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier, morto em 2002, eram verídicas.

Ao todo, foram analisadas treze cartas atribuídas a Jair Presente, morto por afogamento em 1974, na cidade de Americana (SP). As correspondências começaram a ser psicografadas pelo médium ainda no ano da morte de Presente e prosseguiram até 1979.

Conforme o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES-UFJF), o estudo teve início em 2011 e foi feito em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a partir do pós-doutorado dos pesquisadores Denise Paraná e Alexandre Rocha.

O resultado, de acordo com o pesquisador, foi publicado em setembro deste ano pela revista científica Explore, editada na Holanda.

O interesse para desenvolver a pesquisa, explica Almeida, foi a relevância dada no país às cartas psicografadas.

"A motivação foi a importância que as chamadas cartas psicografadas têm no Brasil e a falta de estudos acadêmicos a respeito delas. Sabe-se que pessoas enlutadas podem aceitar, como sendo reais e precisas, cartas que contêm apenas informações genéricas", afirmou o pesquisador.

Segundo ele, o estudo comprovou que os dados colhidos nas cartas atribuídas a Presente eram críveis.

"As informações comunicadas nas cartas eram precisas (nomes, datas e descrições de fatos acontecidos na vida da família) e verídicas (nenhuma informação comunicada nas cartas estava incorreta ou era falsa)", afirmou Almeida em entrevista ao UOL por e-mail.

O pesquisador informou que a análise foi feita nas cartas originais, das quais foram extraídas 99 informações objetivas e passíveis de verificação.

"Familiares e amigos de Jair Presente foram entrevistados, documentos como jornais de época foram checados, além de escritos do Jair Presente e registros em cartórios", disse.

Conforme Moreira, o intuito era comprovar se Chico Xavier poderia ter tido acesso a essas informações por meios convencionais e se as cartas continham dados verídicos e específicos em relação ao falecido.

"A probabilidade de Chico Xavier ter tido acesso a grande parte destas informações por vias convencionais era extremamente remota. Em vários casos, eram informações muito privativas da família e, em algumas delas, até desconhecidas dos familiares que visitaram Chico Xavier para obter as cartas psicografadas", afirmou.

O pesquisador citou como exemplo o falecimento da madrinha da mãe de Presente, "fato que ainda não era do conhecimento da família", descreveu Almeida.

Médiuns em atividade

O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida informou que o resultado de outro lote de cartas psicografadas por Chico Xavier, também investigado por Denise Paraná e Alexandre Rocha, será publicado em breve. Ele adiantou que o núcleo dará início a pesquisas com médiuns em atividade.

"Assim teremos maior possibilidade de um controle experimental do vazamento das informações para o médium. Seu desenho metodológico nos permitirá investigar um número bastante significativo de médiuns em atividade", disse.

Rayder Bragon






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19/12/2014

O Fanatismo Religioso

O Fanatismo Religioso

O FANATISMO RELIGIOSO ENTRE OUTROS - BREVE ENSAIO
Por Raymundo de Lima*

Os primeiros sintomas de fanatismo e suas estratégias de sedução

O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou grupo estarem convictos, quando julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que"as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. "O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria". Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de tornar-se convictos de suas teses. Edgar Morin analisa que quando algumas idéias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas idéias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes idéias, fazem qualquer coisa para "salva-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios político, filosófico e científico.

O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Allah", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", "Em nome do Senhor Jesus eu ordeno..." São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber", onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas. Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar. O mesmo acontece nos auto-elogios das pessoas de raça branca e o desprezo pelas outras como proclamam os fanáticos da extrema direita, nas ações violentas de uma torcida sobre a outra, todos, sinalizam que o indivíduo se rende ao grupo e este "a causa". Os recém convertidos de qualquer seita religiosa ou política estão sempre convictos que, finalmente, contemplam a verdade e essa tem que ser imposta a todos, custe o que custar.

O terceiro indicativo de fanatismo, já dissemos, é quando uma pessoa passa a colocar uma causa suprema (podendo esta ser justa ou delirante) acima da vida dela e dos outros.

Quarto, quando um indivíduo e/ou grupo se isolam da convivência familiar e social e adotam um modo de vida narcísico (no igual modo de vestir, de cortar ou não cortar o cabelo, no jeito de falar, nas regras de comer, na ritualística, etc), enfim, quando uniformizam seu discurso, gestos, postura, atitudes em geral e punem os que se recusam a seguir as regras impostas. Entrar para um grupo de fanáticos implica em renunciar: pai, mãe, os filhos, os amigos, o lugar onde viveu, o trabalho, enfim, os membros são persuadidos a matarem os vestígios simbólicos da vida anterior para fazer renascer a vida em outra base moral e de fé.

Quinto, quando o indivíduo e/ou grupo perdem o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e estranho à vida comum.

O sexto indício de fanatismo é quando se perde o sentido de respeito e humanidade para com os diferentes, em nome de uma causa transcendente.

O psicólogo francês, J-M. Abgrael, resume o método de doutrinação fanática em 3 etapas: 1o) sedução das pessoas para a "causa"; 2o)destruição da antiga personalidade, eliminação dos elos familiares, sociais e profissionais e 3o) construção de uma nova personalidade "renascida" ou "renovada", de acordo com o modelo e as regras da seita. Geralmente essa passagem da vida normal para a vida "renovada", há um ritual, algum tipo de batismo, onde se inicia a adoção de um novo nome, novos hábitos, apresentação de novas "famílias". Sentir-se incluso num grupo "de irmãos" ou "de luta pela causa" "é como estar apaixonado; surge uma sensação maravilhosa, tudo passa a fazer sentido na vida, a pessoa se sente acolhida e imensamente alegre". O indivíduo passa a se ver de modo especial, diferente dos demais para realizar a missão elevada; se vê inundado por um sentimento grandioso que Freud chama de "sentimento oceânico". Imagine um indivíduo desesperado, desgarrado de seu grupo social, sem uma forte identidade psicossocial cuja vida perdeu o sentido, ao ser acolhido em um grupo fanático, recebe mensagens confortadoras, do tipo: "nós amamos você", "você é muito importante para o projeto de Deus", "você faz parte de nossa vida", "Deus te ama", etc Diz P. Demo (2001) "o sentimento de ser amado, move o entusiasmo mais do de qualquer coisa".

Faz parte da estratégia para atrair pessoas para novas seitas e igrejas, investir em programas produzidos para solitários que sofrem insônia e depressão nas madrugadas. Os desesperados sentem-se acolhidos com tais palavras mágicas e facilmente se sentem inclusos e maravilhados pela ilusão de nova vida e sentimento extremo de felicidade, numa igreja em que o fanatismo é o seu ponto cego.

Todo fanático é intolerante.

O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes igualmente com negros adultos, mulheres e crianças. Por isso se diz que há em cada fanático um fascista camuflado, pronto para emergir em atos de exclusão e eliminação.

O semiólogo e filósofo italiano, Umberto Eco, reconhece que o protofascismo está presente nos movimentos fanáticos. No campo político, não importa auto denominar-se de "esquerda" ou de "direita" pode existir um protofascismo. No fundo os atos terroristas são produzidos e sustentados por fanatismos de inspiração místico-fascista incapazes de diálogo ou argumento racional que esclarece sua causa objetiva. Não é sem sentido que os atos terroristas deixaram de dizer algo pela palavra e passaram a ser apenas o ato, o acting out. S. P. Rouanet diz que "os terroristas são agentes de uma ideologia religiosa extrema direita ... que funciona como ópio do povo..." (A coroa e a estrela, FSP, Mais!, 18/11/01)

O fascismo, tanto o de Estado dos fundamentalistas religiosos, como o que está pulverizado nos atos do cotidiano das relações humanas, é fanático porque desrespeita, desconsidera, é intolerante quanto ao modo de ser, pensar e agir do outro, é tradicionalista-fundamentalista. Enquanto o fascista "quer o poder pelo poder", há o fanático "autêntico" que anseia dominar o mundo com sua crença, e o "fanático terrorista" que "deseja apenas destruir a estrutura de sustentação do inimigo". Mas, ambos, o fascismo e o fanatismo não são compatíveis com a democracia. Ambos pregam intolerância multirreligiosa, a intolerância multicultural e multirracial e usam o espaço de liberdade democrática para espalhar o seu ódio e sua crença.

O sentimento que no fundo sustenta o fanatismo e o fascismo não é a fé, nem o amor [Eros], mas o ódio [Thanatos] e a intolerância. O desejo do fanático "autêntico" é dominar o mundo com seu sistema de crença cheio de certeza. No plano psíquico, o lugar do recalque torna-se depósito de ódio e desejo de eliminar todos os que atrapalham o seu ideal de sociedade. Certa dose de paciência doutrinada o faz esperar-agindo para que a "idade de ouro puro" possa um dia acontecer.

São tão fanáticos os terroristas-suicidas muçulmanos como os fundamentalistas cristãos norte-americanos que atacam clínicas de abortos, perseguem homossexuais, proíbem o ensino da teoria evolucionista de Darwin, obrigando aos professores ensinarem a doutrina criacionista tal como está na Bíblia, ou ainda, os protestantes da Irlanda do Norte que atacam crianças católicas ou os bascos que querem ser um país independente a qualquer preço, por meio do terror.

Alguns personagens "messiânicos" de nosso tempo, como Hitler, Idi Amin, Reagan, G. W. Bush, Sharon, os grupos dos martírios suicidas do Oriente Médio, entre outros, tem algo em comum: cada um se sente o escolhido para cumprir uma especial missão. Hitler discursou que "as lágrimas da guerra preparariam as colheitas do mundo futuro". G. Bush, na sua ânsia de guerra contra o ditador S. Hussein, não estaria delirando no mesma linha ? Não é sem sentido que os EUA, tem sido o solo fértil de seitas cristãs fanáticas. Uma delas, A Casa dos Filhos de Jeová, torce para o mundo se acabar logo, porque seus membros acreditam que depois surgirá uma nova civilização do Bem.

Fanáticos e suicidas carecem de humor

O fanatismo parece ser uma doença contagiosa, pois tem o poder de atrair adeptos geralmente em crise profunda de vida pessoal. Fanáticos e suicidas tem em comum a falta de humor e o desapego pela própria vida. A certeza cega tira-lhes o humor e os colocam no caminho do sacrifício místico.

O escritor e pacifista israelense, Amós Oz, numa carta ao escritor japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de 1994, escreve ter encontrado a "cura para o fanatismo": o bom humor. Diz que: "nunca vi um fanático bem-humorado, nem alguém bem-humorado se tornar fanático". Oz imagina uma forma mágica de prevenir o fanatismo: um novo tipo de messias que "chegará rindo e contando piadas".

Emil Cioran, um filósofo amargo e pessimista, vê nas atitudes dos céticos, dos preguiçosos e dos estetas, os únicos que verdadeiramente estão a salvo do fanatismo. Já os religiosos estreitos, os políticos sectários, os dogmáticos que habitam em todas as áreas do conhecimento, tendem ao fanatismo com seus instrumentos próprios. O fanática jamais se pensa ser fanático.

Enfim, é preciso estarmos atentos e preparados para resistir os apelos do fanatismo que como erva daninha não escolhe lugar para germinar e se alastrar. Os grupos fanáticos exercem um atrativo para os indivíduos que possuem uma estrutura psíquica vulnerável, os desesperados, os desgarrados, os avessos ao espírito crítico ou predispostos à crendice, ao desejo de encontrar uma certeza e a se "contentar-se com pouco" na terra, porque ele tem certeza de que ganhará na suposta vida após a morte. Tanto o fanatismo como a guerra estão entre as situações que se encontram na contramão dasabedoria.


Para prevenção do fanatismo

Freud, como pensador evolucionista, pensava que só quando a civilização ascendesse à maturidade psíquica é que descartaria os mecanismos infantis ou alienantes cuja matriz é a religião. Segundo o fundador da psicanálise, a religião infantiliza as pessoas e as arrasta ao delírio de massa. O homem não poderia viver nesse estado de infantilismo para sempre, daí a urgente necessidade de um projeto de uma "educação para a realidade", que fortaleceria a vida intelectual, facilitando o acesso de todos ao conhecimento científico, por ser este verdadeiro. Ademais, a religião não fez e nem faz as pessoas felizes, mas, dá-lhes uma ilusão de felicidade; sem dúvida, ela tem o poder de controla os impulsos primitivos psicossexuais e proporciona alguma direção moral, que costuma ir além do necessário, ou seja, reprimindo o potencial criativo ou de prazer genuíno das pessoas.

Amós Oz, o escritor pacifista, sugere a criação de escolas em todo o mundo da disciplina "fanatismo comparado". Tal disciplina não apenas serviria para entender os fanatismos: religioso, nacionalista, racial, político, desportivo, mas também outros que passam desapercebidos, como o "antitabagista" que poderia queimar os que fumam, o "vegetariano" que comeria vivo quem come carne, "o ecologista" que prefere salvar as baleias às pessoas famintas, etc. Uma disciplina como essa, teria uma função mais que educativa, teria uma preocupação preventiva quanto a possibilidade de "contágio" social do fanatismo, já que pode-se pegá-lo ao tentar curar alguém desse mal. "Conheço o perigo de se tornar um fanático antifanatismo", alerta o escritor.

Concluindo, resumimos que, previne-se o fanatismo com uma educação de boa qualidade, que saiba promover a cultura geral - mais do que a fé - e o sentido de grupo, de criatividade e humor.


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* Psicanalista, docente na UEM e doutorando na Universidade de São Paulo






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18/12/2014

Buscando o meu Orixá


Buscando o meu Orixá

Ele andava triste, por muito tempo buscava uma resposta para suas aflições religiosas. Temia que sua fé minasse a ponto de não mais bater cabeça… quando aconteceu este encontro. Em meio ao perfume das ervas queimando na brasa, ao som dos atabaques, penumbra iluminada por velas, ele ajoelha e desaba:


- Vovô, já não aguento mais…

– O que te aflige meu fio?

– Vô, eu amo os Orixás, não tenho dúvida. Mas passei por tantas desilusões, fui enganado por pessoas que se diziam mestres no culto aos Orixás, ostentando todo tipo de títulos e artefatos. Sei que de certa forma aprendi coisas, mas no fim sempre uma desilusão…

- Continue meu fio…

Em lágrimas ele recobra o fôlego e prossegue.

– Então meu velho, já deitei pro Santo, já assentei Orixás, já passei por muitos fundamentos quando eu cultuava o Orixá em outro segmento que não era Umbanda. Hoje não sei como fazer, de uns tempos pra cá começou meu Caboclo se manifestar, descobri que amo a Umbanda e este é meu caminho, o Caboclo disse que devo me fundamentar na Umbanda e devo assentar meus Orixás. Acontece que meus assentos foram confiscados pelo meu último Babalaô. Acho que meus Orixás estão bravos, estão me cobrando, tenho certeza!

- Meu fio, o que eles cobram?

– Não sei meu velho.

– Então vois zuncê vai pagar o que nem sabe que deve?

– Veja meu velho, como estou confuso. Acredito que preciso assentar meus Orixás para me acalmar. Como faço isso?

– Hehe…É meu fio, vois zuncê ta numa encruza mesmo! Intonce, aquiete seu coração, sinta este cheiro de ervas queimando e escuita com atenção o que este velho nego tem pra te fala…

– Meu velho, sou toda atenção, obrigado… – disse ele em prantos.

- Meu fio, os homens nessa terra tem uma necessidade constante de criar formas para expressar-se, neste caso, o nego vai se ater na religião. Por isso muitas são as formas de cultuar os Orixás, muitas mesmo, e é certo que muitas práticas, nem mesmo sendo tolerante às diferenças, é possível aceitar. Pois meu fio, quando o amor não for o caminho e o bom senso não for o limite, intonce muito problema vai acontecer. Sabe fio, esse velho conheceu os Orixás na antiga África, e lá era tudo muito diferente, simplesmente diferente, não me arriscaria a dizer que melhor, pois assim o nego negaria a evolução constante. Este contato da minha alma com essa luz que chamamos de Orixás mudou a existência do nego, e de tanto que amo e sinto-me bem, após minha passagem para o mundo espiritual, insisti para que Olorum me deixasse perto dos seus Orixás. Sou feliz por isso fio, porque nosso Criador me ouviu.

E foi assim que este velho aprendeu algumas coisas simples. Na carne este nego procurou muito os Orixás pela vida, por entre as coisas da Terra, minha Yá tinha ensinado que os Orixás estavam na Natureza, mas como eu não fugia à regra geral, entendia que essa natureza seria o plano físico da arvore, mata, água, fogo, hehe. Como que se eu tendo um pouco da água eu teria “aprisionado” o Orixá. Entendi já aqui no mundo espiritual fio que Orixá não está fora de nós, mas encontra-se dentro. Ele extrapola nossos poros e nos toma por inteiro quando entendemos e reconhecemos isso. Fio, Orixá é a essência de tudo o que você vê, escuta e sente, está muito além destes parcos sentidos humanos e muitíssimo além da nossa razão humana. Mesmo este velho tentando explicar Orixá, cometo um erro, pois sei meu fio, que Orixá não se explica, se sente. Mas como já disse, precisamos criar formas, então fio, que a sua forma seja a mais próxima do abstrato e do sutil, porque assim talvez esteja próximo do que seja Orixá.

Por isso meu fio não se apegue tanto às formas de como cultuam ou assentam os Orixás, principalmente quando lhe ensinam métodos que não encontra aceitação no seu coração. Os Orixás falam ao coração, intonce é ele que você deve escutar para saber como encontrará os Orixás. Se, por exemplo, você qué assentar um Orixá das matas, vá numa mata, sinta o cheiro das folhas, toque elas, converse com o Orixá, cante, dance, colha as folha, cipó, raízes, terra, vai pegando um pouquinho do que tem lá, porque isso simboliza o tal Orixá fragmentado na natureza, com isso monte um espaço onde colocará isso e lá você reza pro tal Orixá. Entendeu meu fio?

Ele soluçando e enxugando as lágrimas com a voz embargada responde:

- Meu velho, vovô querido, muito obrigado. Agora sinto o Orixá dentro de mim. Entendi sua mensagem e não sei como agradecer.

– Fio não tem de quê. Agora vai ao encontro de si mesmo para encontrar os Orixás. Seja feliz meu fio por entender que da essência só bebe aqueles que amam simplesmente por não saber explicar.

E sempre que irmanados os filhos deste plano estiverem, sem máscaras, sem receios, sem pretensões, lá, através do coração sincero de cada um, o Orixá se manifestará. Todos vocês são filhos de Orixá e adotados por todos os Orixás do Universo, somos filhos dos Pai e Mães Celestiais e nada existe sem a relação harmoniosa e contínua de todos Orixás num emaranhado perfeito. E se buscas o “teu” Orixá, então o encontra dentro de ti! Saravá!

E assim, com três estalos de dedo, o Velho sacudiu seu médium, retornando para sua Aruanda, uma sensação de paz profunda pairava no ambiente e o atabaque secou o couro, um silêncio se fez no ar e podia ouvir o crepitar do fogo nas velas, este silêncio eram os Orixás falando ao coração de cada um presente naquela Gira.

Rodrigo Queiroz



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11/12/2014

Mediunidade Desperdiçada


O conceito geral no Espiritismo é que todos somos médiuns. Uns mais, outros menos sensíveis. Aqueles que têm a mediunidade aflorada, isto é que é ostensiva, sofre perturbações de toda ordem. Isto porque a maioria dos espíritos à nossa volta, devido aos pensamentos, atos e atitudes mundanos, é atrasada. Não perturbam por maldade, mas por diversão. Os espíritos brincalhões têm permissão para fazer suas estripulias, porque o médium necessita de um chamamento. Se ele procurar um local ou pessoa entendida, que o oriente, tem um bom princípio. Estuda, educa a mediunidade e assim passa a ser um intermediário em benefício dos espíritos necessitados. É coisa simples, mas como muita gente desconhece, torna-se complicado.

Se a pessoa ou seus familiares têm idéia preconcebida contra o Espiritismo segue caminhos tortuosos. Passa a percorrer consultórios, variando de médicos até chegar a um psiquiatra. Se este é de mente aberta até pode aceitar o fato da perturbação espiritual. Caso contrário, se a mediunidade é de vidência ou de audição, aplica a medicação dita heróica, isto é, forte bastante para acabar com a alucinação. Isto geralmente acontece com pessoas praticantes de religiões avessas à idéia da comunicabilidade entre vivos e mortos. Outras também não procuram o caminho certo por preconceito social ao notar que a maioria dos espíritas tem vida simples e despojada. Enfim, há várias circunstâncias em que a pessoa passa a vida toda sofrendo sem necessidade, pois a continuidade de atuação espiritual, lúdica ou maldosa, acaba por prejudicar o corpo físico do médium.

Quando na espiritualidade, entre uma e outra reencarnação, nós escolhemos tanto o corpo físico, que nos proporcionará avanços na evolução, quanto as tarefas. Uma destas é a da mediunidade, missão que a pessoa escolheu por vários motivos e que se apresenta em um determinado momento da existência. Se a pessoa a exercer com boa vontade e desprendimento, avança rumo à perfeição. Caso não aceite pegar a tarefa que programou, sofre. O que seria uma bênção passa a ser um martírio. A vida passa, a velhice vai chegando e o tempo foi perdido. Pode-se objetar que os médiuns produtivos também sofrem principalmente incompreensões. Nesse caso, é porque têm o que resgatar e defeitos a extirpar, como por exemplo, orgulho e vaidade, milenarmente impregnados em seu psiquismo. Terá que se fazer humilde para ter boas companhias do Além. Caso contrário pode receber espíritos incentivadores do orgulho, caindo na autofascinação. Daí por diante não aceita corretivo, pois sempre dirá que o "guia" está dizendo o contrário do que seu orientador encarnado diz. Foge dos ensinamentos da Doutrina e do Evangelho.

Como a mediunidade, geralmente, tem início na juventude, se a pessoa não exercê-la passará a vida com achaques. Depois da idade avançada não há mais como iniciar no trabalho, pois as próprias condições do corpo físico determinam limitações. Passou a vida sem realizar o que prometeu. Terá que reprogramar para outra encarnação, geralmente, com mais dificuldades que esta desperdiçada. Quem apresentar mediunidade procure, pois, um Centro Espírita, cuide dessa bênção com amor e dedicação. A vida será mais branda e terá amigos espirituais que o auxiliarão nas vicissitudes que surgirem. Estamos sempre envolvidos pela Divindade. Façamos por sentir Sua presença..

Por Julio Capilé




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