Pessoal, tenho recebido depoimentos de médiuns que vivem um verdadeiro dilema dentro de seus terreiros quanto ao seu desenvolvimento mediúnico e vejo que está faltando esclarecimento de zeladores e por outro lado sensibilidade e respeito pelos irmãos da casa.
O médium quando entra para uma corrente mediúnica deve ser esclarecido sobre vários aspectos, mas gostaria de falar sobre o da incorporação e seu tempo, o médium vai, entra para a corrente e muitas vezes sem mal entender os ritos já é colocado para se desenvolver, na realidade muitas vezes o médium nem sabe descrever o que sente, o porque está sendo rodado, vamos colocar assim, na realidade ele não sabe lidar com a energia que está recebendo da entidade, muitos ficam vários minutos rodando.... rodando... e não incorporam, ai é onde começa o problema...
Infelizmente outros irmãos da corrente começam a observar que aquele filho da corrente não incorpora com tanta facilidade e começa uma pressão imposta e alguns comentários muitas vezes maldosos e maliciosos começam a surgir, tipo: "Nossa fulano, vc não está incorporando nada ainda né.... comigo foi tão fácil".
"Você precisa firmar mais a cabeça" (muitas vezes o médium fica pensando... o que é firmar a cabeça), outros... Hiiii... estou achando que você não vai incorporar não.. vai ficar só como cambono mesmo (como se ser combono fosse uma humilhação, uma função desmerecida, infelizmente alguns médiuns não entenderam ainda o significado de ofertar, de servir, de ser útil, indo contra os lindos ensinamentos de nossas entidades).
Por outro lado tem zeladores e pais e mães de santo, que forçam de tal forma a barra de alguns médiuns que chega realmente a dar pena desses filhos, ficando vários minutos girando e girando seus médiuns como piões, e infelizmente alguns médiuns acabam se sugestionando ou até mesmo mistificando para sair daquele sofrimento do rodar.. (esses zeladores querem número em suas casas quanto mais médiuns incorporando mas status para sua casa, mais força eles acham que demonstram do seu axé, estando completamente equivocados... errados).
Na realidade em muitas dessas casas numerosas que vão por essa linha de pensamento tem vários médiuns, mas a questão é... será que todos estão incorporados? Todos aqueles médiuns aparentemente com suas entidades, realmente são entidades ali... casas com seus 40 médiuns que quando paramos para observar se tem 10 incorporados realmente é muito.
Gostaria de salientar e frisar que não estou desmerecendo as casas que por sua competência e essência possuem uma egrégora fortalecida e numerosa eles trabalharam para isso. Estou falando das casas que viram mais uma fonte de renda fácil do que uma casa de caridade.
O médium iniciante em cada gira, após passar por essas situações começa um processo de constrangimento, ele na sua cabeça começa a pensar: por que eu não incorporo? será mesmo que sou médium? quando vou incorporar? Na realidade virá uma briga contra o tempo em sua cabeça, e em cada gira ele fica cada vez mais obcecado por incorporar, muitas vezes passando o carro na frente dos bois, ele quer provar que pode incorporar de qualquer jeito, em sua cabeça ele quer ser aceito pelos demais irmãos, se sentir igual, mas sem perceber acaba entrando em uma competição desnecessária e inútil. Causando grande tristeza e desapontamento nas entidades.
O que os médiuns precisam entender é que não existe somente o dom de incorporação e nem todo médium que está dentro de uma corrente será um médium de incorporação. Existem várias formas de se ser útil para dentro de um terreiro, sendo um médium comprometido, responsável, assíduo, que ajuda na manutenção da casa, cambonando, sendo um médium aplicado aos estudos, comparecendo nas palestras, sendo útil, porque a pior falha do médium não é a de não incorporar e sim ser um médium inútil, não comprometido, irresponsável, fofoqueiro, invejoso, malicioso, isso sim são mazelas.
O médium deve entender que sua missão e trajetória mediúnica é pessoal ... individual, alguns levarão pouco tempo para que suas entidades se manifestem, outros muito tempo até anos e outros com missões diferentes simplesmente não incorporarão, possuirão outros dons mas não sendo com isso menos úteis à corrente espiritual.
Está realmente faltando maiores esclarecimentos, observação de alguns zeladores para abrandar o coração de nossos neófitos tirando essa ansiedade prejudicial que muitas vezes só atrapalha criando fantasias desnecessárias que irão só atrapalhar o bom desenvolvimento.
O médium precisa procurar casas que tenham um comprometimento maior quanto a estudos, palestras e quanto ao desenvolvimento mediúnico, casas não comprometidas com esse processo costumam causar vários danos muitas vezes irreversíveis, criando médiuns mistificadores e sugestionados.
O médium de Umbanda deve entrar para corrente abraçando nossa irmã humildade, deixando a vaidade de lado, entrando de coração aberto para ser um soldado de Umbanda e como um bom soldado passar pelos ensinamentos, treinamentos, doutrinas, deixando a pressa de lado, e principalmente não se comparando e nem imitando os demais, caso contrário irá ser derrotado na primeira batalha e perderá a guerra.
(Somos apenas crianças no seio da espiritualidade... somos instrumentos de uma causa maior)
Os irmãos da corrente precisam ter a sensibilidade, o dom da irmandade e amparar esses irmãos que chegam desorientados, perdidos e os ajudar a serem verdadeiros irmãos de fé, tendo a caridade, a compreensão e o entendimento de que cada caminhada é única.
Observo vários filhos de Umbanda procurando esclarecimentos fora de seus terreiros muitas vezes por falta de sensibilidade e entendimento de zeladores, outras por curiosidade e falta de confiança, lembrando que os maiores ensinamentos são dentro do chão do terreiro, juntamente com as entidades chefes da casa, que melhor que ninguém sabem da trajetória individual de cada filho. Filhos não entrem em uma casa sem confiança nos guias chefes e em seus zeladores.
Sei perfeitamente que muitas casas não são comprometidas, que muitos zeladores nunca tem tempo para seus filhos, por outro lado vemos médiuns apressados e afoitos que querem provar não sei para quem, que podem.. mas podem o que? não é mesmo... se não conseguem entender a principal lição da Umbanda que é humildade, que muitas vezes não perseveram, que muitas vezes não são comprometidos e responsáveis. Esquecem-se do que realmente é ser Umbandista.
Antes de querer provar que podem incorporar, prove primeiramente a si mesmos com suas reformas íntimas, com seu melhoramento e com certeza, caso seja seu dom mediúnico o da incorporação, será um bom instrumento para as entidades.
Irmãos de fé, não entrem nessa correria de quem quer ser o primeiro, de quem quer incorporar o guia mais forte, não se deixem ser pressionados e lembrem-se que a espiritualidade não tem tempo, seu tempo é o infinito, e o tempo deles não é o mesmo que o nosso. Na egrégora espiritual não existe vaidade existe missão e objetivo.
Abracem a causa da Umbanda com seriedade e responsabilidade, lembrando sempre que somos instrumentos das entidades e não ao contrário, estamos por uma causa .. que é a da caridade e do amor ao próximo, não podemos ofertar o que não temos dentro dos nossos íntimos, o que não possuímos. Sejamos fíeis ...
Cristina Alves