outubro 2013 - Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca

31/10/2013

Espada de Ogum

Espada de Ogum


Nome Científico: Sansevieria trifasciata
Nomes Populares: Espada-de-são-jorge, Língua-de-sogra, Rabo-de-lagarto, Sansevéria
Família: Ruscaceae
Categoria: Folhagens, Forrações à Meia Sombra
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: África
Altura: 0.4 a 0.6 metros, 0.6 a 0.9 metros
Luminosidade: Meia Sombra, Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene

Herbácea de resistência extrema, excelente para jardins de baixa manutenção. No entanto seu crescimento é um pouco lento. Suas folhas são muito ornamentais e podem se apresentar de coloração verde acinzentada e variegadas, com margens de coloração branca, todas com estriações de um tonalidade mais escura. As flores brancas não tem importância ornamental. É uma planta de utilização bastante tradicional e a cultura popular recomenda como excelente protetor espiritual.

Devem ser cultivadas à pleno sol ou meia-sombra, em vasos ou em maciços e bordaduras. Resiste tanto à estiagem, como ao frio e ao calor, além de ser pouco exigente quanto à fertilidade. Multiplica-se por divisão de touceiras, formando mudas completas com folhas, rizoma e raízes.

A espada de São Jorge (Sansevieria trifasciata, L), também conhecida por espada de Ogum, rabo-de-lagarto e língua-de-sogra é uma das mais importantes ervas do culto afro-brasileiro e uma entre as muitas plantas trazidas pelos escravos africanos ao Brasil. Acredita-se que seja nativa da região entre Nigéria e Congo, porém, não foi só por aqui que a espada se estabeleceu: na China e Japão é conhecida por rabo-de-tigre, e na Turquia como espada-de-paxá.

Na umbanda, é utilizada em banhos, amacis, rituais de bate-folha, no afaste de eguns e de energias densas, podendo também ser usada como protetora de ambientes, quando em vasos. A espada de São Jorge é a principal folha de Ogum, senhor do ferro e do fogo. Assim como o orixá, a espada de São Jorge é uma protetora por excelência.

Por ser uma erva de limpeza poderosa, o banho com Espada de São Jorge deve ser restrito para limpezas profundas. Ervas como esta, quando usadas repetidamente, removem as energias densas e também as sutis, enfraquecendo aquele que a faz uso.

Embora seja pouco comum, a espada de São Jorge pode ser irritante quando em contato com a pele. Coincidência ou não, muitas plantas utilizadas para a limpeza astral são ricas em substâncias químicas irritantes como, neste caso, poliacetilenos e outros ácidos orgânicos. Ao utilizar a planta em banhos, fique sempre atento a sinais na pele e coceiras, evite banhos muito concentrados e jamais faça chás com esta planta.

O PODER DE PURIFICAÇÃO DA ESPADA DE SÃO JORGE

Há mais de duas décadas que a NASA (agência espacial americana) tem pesquisado formas de purificar o ar de ambientes fechados que contenham materiais sintéticos, como forma de melhorar a qualidade do mesmo nas viagens espaciais ou estadias na Estação Espacial Internacional.

Como resultado da pesquisa conduzida pelo Dr. Bill Wolverton, a NASA descobriu que certas plantas domésticas comuns são purificadores naturais do ambiente, ou seja, elas não apenas absorvem dióxido de carbono e liberam oxigênio através do processo de fotossíntese, mas também removem do ambiente elementos prejudiciais a saúde humana, tais como o benzeno e o formaldeído. Entre as plantas com tais propriedades está a famosa Espada-de-São-Jorge (Sansevieria Trifasciata)

Velha conhecida dos brasileiros, especialmente dos umbandistas, para os quais possui a propriedade de neutralizar as energias negativas do ambiente, a Espada-de-São-Jorge possui a capacidade de absorver formaldeídos liberados por madeiras, tecidos sintéticos e carpetes, purificando o ar dessas substâncias tóxicas.

A Espada-de-São-Jorge é uma planta de origem africana, de extrema resistência tanto ao frio quanto ao calor, e que requer poucos cuidados, sendo bastante tolerável a baixa fertilidade do solo. Suas folhas apresentam uma coloração verde acinzentada em duas tonalidades de estrias: uma mais escura e uma mais clara.

Além de ser uma planta purificadora do ar, e de ser considerada pelos umbandistas como purificadora espiritual, ela também pode ser usada em jardins ou vasos como uma planta ornamental que requer poucos cuidados, porém deve-se tomar cuidado para que crianças e animais não comam suas folhas, já que ela é uma planta tóxica.

Ednay Melo





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Manjericão

    Manjericão


    Nome Científico: Ocimum basilicum
    Nomes Populares: Manjericão, Alfavaca, Alfavaca-cheirosa, Alfavaca-de-jardim, Alfavaca-doce, Alfavaca-d’américa, Basilicão, Basílico, Erva-real, Manjericão-branco, Manjericão-de-folha-larga, Manjericão-de-molho, Manjericão-doce, Manjericão-grande
    Família: Lamiaceae
    Categoria: Ervas Condimentares, Medicinal,Plantas Hortícolas
    Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
    Origem: Ásia, Índia
    Altura: 0.4 a 0.6 metros, 0.6 a 0.9 metros
    Luminosidade: Sol Pleno
    Ciclo de Vida: Perene

    O manjericão apresenta caule ereto e ramificado, e atinge cerca de 0,5 a 1 metro de altura. Suas folhas são delicadas, ovaladas, pubescentes e de cor verde-brilhante. As inflorescências são do tipo espiga e compostas por flores brancas, lilases ou avermelhadas. Sua polinização é cruzada e os frutos são do tipo aquênio, de coloração preto-azulada. Ocorrem mais de 60 variedades diferentes de manjericão, com variações na cor, tamanho e forma das folhas, porte da planta e concentração de aroma.

    As folhas do manjericão apresentam sabor e aroma doce e picante característico. Elas são utilizadas secas ou frescas na preparação de diversos pratos quentes ou frios, e estão intimamente relacionadas à gastronomia italiana, onde são matéria prima principal de pestos e molhos. O manjericão combina-se perfeitamente com pratos que levam tomate, azeite, limão, carnes vermelhas, massas e queijos. Ele também é produzido em larga escala para a extração de óleo essencial, que é utilizado na indústria de alimentos, bebidas, perfumaria e outros produtos.

    Deve-se cultivá-lo sob sol pleno, em solo fértil, bem drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Pode ser plantado em vasos, ou diretamente em canteiros adubados. Suas pequenas flores atraem abelhas e o lugar ideal para o plantio do manjericão é próximo a cozinha, onde ficará disponível ao cozinheiro. Não tolera frio, geadas ou calor excessivo. Aprecia o clima subtropical, tropical e mediterrâneo. Não suporta muitas colheitas subsequentes, exigindo o replantio. Multiplica-se facilmente por estacas de ponteiro, postas a enraizar na primavera ou por sementes.

    O manjericão é uma planta herbácea, aromática e medicinal, conhecida desde a antiguidade pelos indianos, gregos, egípcios e romanos. Ele é envolto de cultura espiritual e simbologismos, sendo, inclusive, considerado sagrada entre alguns povos hindus, por representar Tulasi, esposa do deus Vishnu. Está relacionado com sentimentos de amor.

    Suas sementes foram usadas na medicina persa. No antigo Egito, as folhas de manjericão eram espalhadas sobre as tumbas. O manjericão é uma planta sagrada, ocimum sanctum para os hindus, e era plantado em vasos perto dos templos e do lado de fora de quase todas as casas. As raizes são transformadas em contas e usadas ao redor de pescoço e braços, as sementes transformavam-se em rosários.

    O manjericão é originário da Índia, onde é venerado como a planta imbuída de essência divina; é consagrada a Krishna e a Vishnu – os dois são as divindades supremas no Hinduísmo, podendo ser facilmente sincretizados com Oxalá. Por isso, os indianos o utilizam nos juramentos em tribunal, assim como o colocam sobre o peito dos mortos para servir de passaporte ao Paraíso.

    Na Antiga Creta ele era atribuído a Afrodite e simbolizava o amor banhado em lágrimas, o que encontramos ainda hoje na Itália, onde o manjericão é oferecido como prova de amor e fidelidade. Assim como no Haiti, onde a planta acompanha a deusa Erzulie, a deusa do amor.

    O que se pode concluir é que o manjericão é a erva do amor, não apenas do amor romântico, mas do amor universal; do amor divino. O banho de manjericão, por isso, serve para purificar afastando as trevas que envolvem o coração e abrindo caminho para a luz. Abre caminho, assim, para a possibilidade de se refletir sobre os próprios sentimentos.

    Nos banhos ritualísticos o manjericão também é muito utilizado. Tem como principal característica litúrgica o poder de elevação espiritual, por isso é muito utilizada em amaci.

    A linha de Pretos-Velhos também trabalha com manjericão. Eles dizem que na falta da Arruda em seus benzimentos, um galhinho de manjericão resolve.
    O manjericão, quando exposto num ambiente, tem a propriedade de acalmar e trazer paz de espírito a todos.

    É uma erva popular, de aroma forte e gostoso. É popularmente utilizado como tempero, mas o chá das folhas do manjericão, na medicina popular, serve principalmente para aliviar as dores de garganta com bochechos e infusões que ajudam a cicatrizar qualquer problema bucal.

    Também é excelente contra gripes, tosses, resfriados e bronquite. O manjericão é um sedativo suave, que pode ser usado para combater a dor de cabeça, gastrites, vômitos, problemas do aparelho urinário e dores de estômago.

    Formas de uso: Banhos e chás.

    Orixás: Oxalá, Iemanjá e Oxum
    Características: Pequenas folhas ovais arredondadas de coloração verde clara inflorência em espigas.


    Manjericão Roxo

     

    Pertence aos Orixás Xangô e Obaluaiê. Utilizada nas obrigações de cabeça dos filhos a que correspondem. Usada também para defumação, lavagem de contas e banho de limpeza. Na medicina popular é aplicada no auxílio da digestão alimentar e contra formação de gases.

      Ednay Melo

    Fontes de Pesquisa
    http://www.jardineiro.net
    http://luzeumbanda.blogspot.com.br
    http://orixasdearuanda.wordpress.com
    http://www.centroogumrompemato.com.br
    http://umbandasp.webnode.com.br/
    http://www.umbandaquerida.com.br
    http://www.cabocloaymore.com.br


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Medo da Morte

Medo da Morte

Entrevista com Richard Simonetti
Fonte: Livro "Perguntando e Aprendendo" - Waldenir Cuin


Richard Simonetti, funcionário aposentado do Banco do Brasil, residente em Bauru, SP. É orador, jornalista e escritor espírita, ocupando atualmente o cargo de presidente do Centro Espírita "Amor e Caridade". Livros publicados: "Quem Tem Medo da Morte?", "Uma Razão Para Viver", "Atravessando a Rua", entre outros.

P:– As religiões, de um modo geral, apregoam a continuidade do ser espiritual que sobrevive à matéria. Apesar disso, as pessoas temem a morte. Por que isso acontece?
R: – É que a morte ainda é a grande desconhecida. As religiões tradicionais exaltam a sobrevivência, mas perdem-se em especulações teológicas, fantasiosas, quando cogitam de como seria a vida além-túmulo, recusando-se à iniciativa mais lógica, que seria a de conversar com os próprios mortos. É como se pretendêssemos imaginar como é a vida na França sem nenhum contato com os franceses. A ignorância sobre o assunto gera o temor. O Espiritismo ajuda-nos a vencer esse problema, porquanto começa exatamente onde as outras religiões terminam, devassando para nós o continente espiritual.
P:– A morte ou a desencarnação libera o Espírito. Para onde ele vai? Quem o aguarda?
R: – A morte promove o encontro com a nossa própria consciência, para uma avaliação da experiência humana. Esse tribunal incorruptível determinará se seguiremos para regiões purgatoriais, onde, segundo a expressão evangélica, “haverá choro e ranger de dentes”, ou se nos habilitaremos a estagiar em comunidades diligentes e felizes, plenamente integradas no serviço do bem.

P: – Como podemos ajudar o espírito que acaba de desencarnar, principalmente as vítimas de tragédias como acidentes automobilísticos, afogamentos, etc.?
R: – A morte não dói, mas impõe ao espírito certos constrangimentos e até aflições, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, trata-se do desligamento de um corpo material ao qual esteve vinculado por largos anos, colhendo por seu intermédio, experiências sensoriais que se entranharam em sua intimidade, e das quais não é fácil desvencilhar-se. Tais problemas são diretamente proporcionais à natureza da morte: quanto mais abrupta, mais intensos. E inversamente proporcionais à condição do Espírito que desencarna: quanto mais evoluído, menos intensos. Tudo o que podemos fazer em seu beneficio é orar muito, conservando a serenidade e o equilíbrio, confiando em Deus, porquanto o desencarnante é muito sensível às vibrações dos familiares. Sentimentos de revolta, desespero e inconformidade repercutem em seu psiquismo, dificultando o desligamento e atormentando-o na vida espiritual.

P: – Nossos familiares desencarnados poderão continuar a nos ajudar, mesmo no mundo espiritual?
R: – Nossos amados não estão isolados em compartimentos estanques, no Além. Eles nos procuram, nos estimulam, nos amparam. Torcem por nós, esperando que sejamos fortes e fiéis ao bem, no desdobramento de nossas provações, a fim de que o reencontro mais tarde – tão certo quanto a própria morte – seja em bases de vitória sobre as provações humanas, ensejando abençoado porvir.

P: – De que forma devemos lembrar nossos entes queridos que desencarnaram? Visitando suas sepulturas nos cemitérios?
R: – Cemitério não é sala de visita do Além. Ali há apenas a veste carnal, decomposta, de alguém que transferiu residência para a espiritualidade. Ele preferirá ser lembrado na intimidade do lar, com preces e flores abençoadas de saudade, sem espinhos de inconformidade, como o fazem as pessoas conscientes de que a morte não desfaz as ligações afetivas, nem situa nossos amados em compartimentos estanques. Eles continuam vivos, amando-nos mais do que nunca. Visitam-nos e nos ajudam, torcendo por nós, aguardando, com a mesma ansiedade nossa, o reencontro feliz na espiritualidade.

P: – A criatura geralmente tem pavor da morte ou desencarnação, evitando comentar o assunto. Isso é um erro?
R: – Trata-se de uma atitude irracional, já que a morte é a única certeza da vida. Todos morremos um dia. O medo da morte, basicamente, é o medo do desconhecido. Por isso o Espiritismo elimina nossos temores “matando” a morte, na medida em que demonstra que ela é apenas um retorno à vida espiritual, nossa pátria verdadeira.

P: – Por que acontecem desencarnações de crianças, que estão apenas iniciando a jornada terrena?
R: – É um problema cármico envolvendo o desencarnante e a família. A existência curta frustra as expectativas do Espírito, impondo-lhe uma valorização da jornada humana, não raro malbaratada no passado pelo suicídio. Os pais, por sua vez, podem estar comprometidos com seus desatinos, por tê-los estimulado ou favorecido. Não raro estão pagando pelo descaso e a irresponsabilidade em anteriores experiências com a paternidade. Pode ocorrer, também, que se trata de breve encarnação sacrificial, em que um Espírito superior convive por alguns anos com afetos queridos na intimidade familiar, fazendo do sofrimento decorrente da separação pela morte um vigoroso impulso no sentido de que os pais superem as ilusões da Terra e cultivem os valores do Céu.

P: – Por que certos moribundos experimentam melhoras em seus quadros clínicos, a ponto de tranqüilizar os familiares, e instantes depois desencarnam?
R: – Quando a família não aceita a desencarnação, mergulhando no desespero, suas vibrações desajustadas promovem uma sustentação artificial do moribundo, que não evita a morte, mas prolonga a agonia. Os benfeitores espirituais promovem, então, com recursos magnéticos, uma melhora artificial. O paciente parece entrar num quadro de recuperação. Os familiares, mais tranqüilos, afastam-se, julgando que o pior passou. Afrouxa-se a sustentação fluídica retentora e inicia-se o irreversível processo desencarnatório. A sabedoria popular proclama: - “Foi a melhora da morte”. Na verdade, trata-se apenas de um recurso da espiritualidade para afastar familiares que atrapalham a desencarnação.

P: - A certeza da continuidade da vida após a morte e as noções sobre a reencarnação ajudariam as pessoas a vencerem o sentimento de desesperança?
R: – Sem dúvida. Tais realidades descortinadas pela Doutrina Espírita, muito mais do que simples esperanças, nos oferecem segurança diante da vida e alegria de viver.

P: – Os ensinamentos que a Doutrina Espírita nos apresenta nos preparam melhor para a desencarnação?
R: – O Espiritismo é o bê-a-bá da Vida Espiritual. Sabendo o que nos espera, será mais fácil enfrentar a grande transição. Imperioso reconhecer, porém, que o conhecimento espírita ajuda-nos no trânsito para o além, mas como chegaremos lá é uma questão eminentemente pessoal. Depende de como estamos vivendo, partindo do princípio evangélico de que aquele que mais recebe mais terá que dar.
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26/10/2013

Obsessão - Causas - Meios de Combatê-la


A Obsessão jamais se efetua sem a participação do obsedado, seja por fraqueza, seja pelo seu desejo. No primeiro caso, freqüentemente, estão associadas as responsabilidades da Lei de Causa e Efeito e, no segundo Casio, as tendências de comportamento do homem.

Igualmente, fala Emmanuel, em “Estude e Viva”, lição 35, que “é forçoso recordar, sobretudo, que os alicerces de qualquer ambiente espiritual começam nas forças do pensamento”. Complementando seu esclarecimento: “sempre que você experimente um estado de espírito tendente ao derrotismo, perdurando h[á várias horas, sem causa orgânica ou moral de destaque, avente a hipótese de uma influenciação espiritual sutil”.


Coloca Emmanuel como fatores que mais revelam essa condição da alma, as dificuldades de concentrar idéias em motivos otimistas; indisposição inexplicável, tristeza sem razão aparente ou pressentimentos de desastre imediato, aborrecimentos imanifestos, pessimismos sub-reptícios, irritações surdas, hiperemotividade ou depressão e tantos outros motivos.


Os motivos, as causas da obsessão variam segundo o caráter do Espírito (LM, cap. XXIII,itens 245 a 254):


Vingança contra desafetos do passado.


Desejo de fazer os outros sofrerem, quase sempre por ignorância, inveja, covardia, etc..


Desejo de impor as suas idéias para dominar, desunir, destruir.


Divertimento com a impaciência da vítima, porquanto ao se zangar faz precisamente o quer ele quer.


Apego a pessoas por ligações afetivas do passado.


O meio mais eficaz de combater a obsessão, levando à sua cura, é através da mudança interior do obsedado, quebrando - se, assim, o elo entre a vítima e o obsessor, formado pela lei das afinidades; a aquisição de sentimentos elevados como a humildade, o perdão, a tolerância, a paciência, o arrependimento, condições de fortalecimento da alma para resistir aos arrastamentos sugeridos.


Um tratamento complementar consiste no trabalho de desobsessão, levando ao Espírito obsessor o esclarecimento dos princípios doutrinários, coadjuvando por um serviço de passes com fluidos salutares para fortificação perispiritual. Será necessário levar o espírito perverso a renunciar os seus desígnios: é preciso fazer nascer nele o arrependimento e o desejo de fazer o bem.



Em resumo, pode - se dizer que duas são as medidas essenciais: a reforma íntima de ambos, por suas imperfeições morais, e a prece a Deus e a vigilância nas atitudes, para se guardarem na proteção dos Bons Espíritos.


O tratamento, todavia, deve ser feito, segundo as características de cada processo obsessivo, cujo reconhecimento decorre dos seguintes sintomas (LM, cap. XXIII, item 243.):


Insistência de um Espírito em se comunicar, queira ou não o médium.


Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas.


Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos espíritos.


Disposição para afastar-se das pessoas que podem esclarece-lo.


Intolerância para asa críticas feitas às comunicações que recebe.


Necessidade constante e inoportuna de escrever.


Constrangimento físico qualquer, dominando - lhe a vontade e forçando - o a agir ou falar a contragosto seu.


Ruídos e desordens constantes ao redor do médium, dos quais é ele a causa de tudo ou o objeto.



André Luiz em “Missionários da Luz”, cap.XVII, mostra que o tratamento é diferente, conforme o grau de intensidade da obsessão. Relata, inclusive, um caso de “possessão”, dizendo que a obsedada estava “cercada de entidades agressivas, seu corpo tornara - se como que a habitação do perseguidor mais cruel. Ele ocupava - lhe organismo, desde o crânio até os pés, impondo - lhe tremendas reações em todos os Centros de Energia Celular. Fios tenuíssimos, mas vigorosos , uniam, ambos, e, ao passo que o obsessor nos apresentava um quadro psicológico de satânica lucidez, a desventurada mulher mostrava aos colaboradores encarnados a imagem oposta, revelando angústia e inconsciência”. Deixa, finalmente, registrado que o tratamento deve ser sempre na base do amor e do esclarecimento.


No Cap IX de “Nos Domínios da Mediunidade”, André Luiz mostra, também, outro caso de possessão, ocorrido num doente de epilepsia, decorrente de dívidas do passado, em que mais uma vez esclarece a importância do amor no tratamento informando que a cura depende do entendimento de cada um.


De modo geral, todos os homens estão sujeitos à obsessa, mas os médiuns, certamente, mais que os outros, enlaçados em tremendas provas, devem aprender, sem desanimar. E servir ao bem, sem esmorecer.


Diz Kardec (LM, cap. XXIII, item 251) que “não há nenhum processo material, nenhuma fórmula, sobretudo, nenhuma palavra sacramental, com o poder de expulsar os Espíritos obsessores. O que falta em geral ao obsedado é força fluídica suficiente. Nesse caso,, a ação magnética de um bom magnetizador pode dar - lhe uma ajuda eficiente”. Em “Obras Póstumas”, capítulo “Manifestações dos Espíritos”, §7°, item 58, Kardec menciona “quando dois homens lutam corpo a corpo, aquele que dispõe de mais fortes músculos é que abate o outro. Com um Espírito tem - se de lutar, não com o corpo a corpo, mas Espírito a Espírito, e é ainda o mais forte que triunfa. Aqui, a força reside na autoridade que se possa exercer sobre o obsessor, e essa autoridade está subordinada à superioridade moral”.


Por isso, “temos, pois, que nos persuadir de que não há, para alcançar - mos aquele resultado, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem sinais materiais quaisquer”.


Antes, pois, de pretender domar um Espírito mau, que se cuide o homem de domar a si mesmo, e isto ele consegue, através da boa vontade, secundada pela prece e pela vigilância: “Ajuda - te a ti mesmo, e o Céu te ajudará”.


Valdomiro Halvei Barcellos


BIBLIOGRAFIA
LM, cap.XXIII.
LE, questões 459 a 480.
OP, Manifestações dos Espíritos, §7°, item 58.
Missionários da Luz, cap.XVIII, André Luiz.
Nos Domínios da Mediunidade, cap.IX, André Luiz.
Estude e Viva, lição 35, Emmanuel.





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24/10/2013

Ibejada Bendita


Ibejada bendita, que chega fazendo bagunça, dispersando os fluidos ruins e doentios que carregamos de nossas vidas sofridas, nos carregando para dançar de roda e girando para um vórtice de limpeza….

Crianças protegidas de Oxalá, espíritos puros que têm a capacidade como poucos de desmanchar as demandas e as feitiçarias, as maldades de quem não sabe da Lei de Causa e efeito.

Espíritos abençoados que utilizam a energia do açúcar e das frutas para adoçar as nossa vidas, tirar o fel e o azedume, tirar o véu e a sombra, clareando tudo ao redor com suas gargalhadas cristalinas.

Na gira de Ibejada desfilam as ciganinhas, os caboclinhos, da mata, das cachoeiras e das praias, percorrendo todas as linhas, trazendo a força de todos os Orixás. Percorrendo o terreiro em abraços, cantigas, corridas e danças, com seu jeito brejeiro, com sua vivacidade e energia, tudo vibra, tudo o que não é bom se desfaz e só positividade e pensamentos bons sobrevém.

É interessante buscar o significado de tudo. A cana de açúcar tem a capacidade de alinhamento energético do corpo físico, emocional e mental. Ancora o Amor através da criação de um canal entre o Céu e a Terra. Ajuda na libertação de processos de dependência e obsessão, muitas vezes cármicos. Desta forma, as crianças espirituais que trabalham na Umbanda usam o açúcar da cana para energizar os consulentes que vêm, fatigados, desvitalizados, com seus corpos astrais desalinhados, reestruturando-os e fortalecendo-os. Assim como os caboclos, pretos velhos e exus usam o álcool com fins semelhantes em situações de demandas, desobsessão, quebrando vínculos energéticos anômalos, perigosos, limpando o corpo astral dos filhos de banda.

É uma pena que hoje em dia existam correntes adversárias que acreditam e fazem acreditar que os doces que os umbandistas e católicos doam é coisa maléfica, com pragas e perdições. Durante séculos nada aconteceu com as crianças que ganhavam doces, e agora querem misturar o conteúdo de filmes de horror e energias trevosas a algo tão bonito e puro, compurscando a nobreza e a santidade de Cosme e Damião, que são os padroeiros das crianças espirituais.

E ao lembrarmo-nos de Cosme e Damião, vamos pedir a estes mestres ascencionados que nos curem de toda as enfermidades físicas e espirituais, nos fortalecendo para nossa caminhada neste mundo de provas. Que possamos utilizar a mesma doçura para superar as dificuldades, diluir as dores e aprender a dividir e compartilhar, esquecendo toda e qualquer mágoa que possa nos desequilibrar e enfermar novamente. Que estes Mestres Curadores nos tragam Paz, Serenidade, poder se superação, e que sempre consigamos caminhar de forma simples e pura como as crianças, perdoando, esquecendo e sabendo brincar com nossas dificuldades, imperfeições, mas buscando superá-las sempre. Sabemos que por trás da fala enrolada e das brincadeiras de uma criança espiritual, está um Sábio, uma entidade que muito aprendeu, que está sob a Proteção Maior e que tem o Poder de superar as Trevas, e este é outorgado pelas Falanges Celestiais.

Nosso Respeito, nosso Amor, nossa Alegria por ter a benção de encontrar e conversar com esta Ibejada maravilhosa.

Alex de Oxossi





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23/10/2013

Viagem Astral


Viagem astral

Há casos em que os espíritos, à noite, deixam o seu corpo físico no leito de repouso e durante o sono penetram imprudentemente nas regiões inóspitas do astral inferior, terminando por sofrer agressões de espíritos malfeitores ou vingativos, que se aproveitam de todas as circunstâncias e ocasiões propícias para se desforrarem dos encarnados.


Esses prejuízos ainda são mais graves quando as criaturas vivem de modo censurável e são indiferentes aos ensinamentos de Jesus ou de outros instrutores espirituais, que sempre ensinam aos homens um padrão de vida superior.


A má conduta do dia deixa o espírito desamparado para as suas saídas em astral, à noite, pois quando ele se desprende do corpo carnal fica isolado dos seus protetores pela massa de fluidos adversos, que lhe aderem nos momentos de invigilância espiritual. Deste modo, os seus guias nada podem fazer nos momentos de perigo, nem livrá-lo de certos traumas psíquicos que no dia seguinte são levados à conta de pesadelos.


Certos sonhos tenebrosos não passam de cenas reais vividas à noite, fora do corpo e sob a perseguição ou agressividade de certos malfeitores do mundo invisível.
Em tal condição, o espírito do "vivo" retorna veloz e aflito ao local onde se encontra seu corpo físico, para mergulhar celeremente no seu escafandro de carne e proteger-se contra os perigos do Além.


Muitas criaturas devotam-se durante o dia às paixões ignóbeis, aos vícios deprimentes, à maledicência e à estatística dos pecados do próximo; depois atiram-se no leito de repouso, sem ao menos recorrerem aos benefícios salutares da oração que traça fronteiras fluídicas protetoras em torno do espírito encarnado.


Ramatis / Hecílio Maes




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13/10/2013

Origem e História da Umbanda



história da umbanda






A história nos mostra que os negros foram tirados a força de sua terra natal, na África, e trazidos para o Brasil com rancor e ódio em seus corações. Feridos em sua dignidade e distantes da pátria que amavam, muitas das vezes, enganados, feitos prisioneiros e escravos, o que resultou em muitos anos de lutas e dores. Eles tentavam manter seus costumes na cultura e na religião, que se baseava na evocação das forças da natureza, deificadas e personificadas em divindades, que eram uma espécie de deuses, a que cultuavam com todo fervor de suas vidas.

Com o tempo aprenderam a se vingar de seus senhores e déspotas através de pactos com entidades trevosas através da magia negra, que não era outra coisa se não as energias magnéticas da natureza empregadas de forma equivocada. Dessa maneira o culto inicial as divindades da natureza foi se transformando em métodos de vingança e em pactos com essas entidades que assumiam a forma dessas mesmas divindades.

Um mistério envolvia de tal forma essas manifestações religiosas, que se tornava difícil para um leigo saber sua origem e seu significado. Seus rituais eram tão misteriosos, que o povo com seu misticismo natural era constantemente explorado por aqueles que nenhum escrúpulos tinham em relação à fé alheia. Esses cultos acabaram se tornando, na verdade, num disfarce para uma série de atividades menos dignas no campo da magia, o que com o tempo acabou gerando uma atmosfera psíquica indesejável no campo áureo do Brasil.

A psicosfera no ambiente espiritual da nação estava sendo afetada de tal forma pelas energias negativas, que entidades ligadas aos lugares de sofrimento encarnavam e desencarnavam conservando assim o ódio em seus corações. Dessa forma a magia negra foi se espalhando em forma de culto pelas terras brasileiras, de norte a sul do país onde as oferendas eram entregues pelos adeptos desses cultos, que se multiplicavam a cada dia, aumentando ainda mais a crosta mental negativa que vinha se formando sobre os céus da nação.

No Mundo Espiritual reuniram-se então, entidades de alta hierarquia com o objetivo de encontrar uma solução para desfazer essa egrégora negativa que vinha se formando na psicosfera do país. A magia negra teria de ser combatida e seus efeitos destrutivos haveriam de ser desmanchados, de maneira a transformar os próprios cultos degradantes em lugares que irradiassem o Amor e a Caridade, essa era a única forma de modificar o panorama sombrio que vinha sendo criado.

Havia então a necessidade de que os próprios espíritos, mais evoluídos e esclarecidos, se manifestassem para realizar tal cometimento, e assim foram se apresentando, uma a uma, aquelas entidades iluminadas modificando suas formas perispirituais, assumindo assim, a conformação das próprias divindades e de entidades como Preto-velhos e Caboclos, levando a mensagem da Caridade, com o objetivo inicial de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os corações dos homens.

Essas entidades seriam o elo de ligação com o Alto, penetraria aos poucos nos redutos da magia negra, os quais ainda se mantinham enganados quanto as Leis do Amor e da Caridade, e iria então transformando, com as palavras e os ensinamentos das entidades, os sentimentos das pessoas. Para isso foi necessário que elevados companheiros da vida maior renunciassem certos métodos de trabalho, considerados por eles mais elevados, para se dedicarem às atividades que aqueles cultos se propunham. A essas entidades, se juntaram antigos espíritos de escravos e índios, que em sua simplicidade e boa vontade, se propuseram a trabalhar para mostrar aos homens suas lições sagradas, auxiliando assim na cura de doenças e na transmissão das mensagens de Amor e Caridade.

Nas sessões espíritas, da época, essas entidades não foram aceitas, pois identificadas sob essas conformidades, preto-velhos e caboclos, eram considerados espíritos atrasados e suas mensagens não mereciam nem mesmo uma análise. Mas com o campo áureo do país mais preparado, mesmo não conseguindo muitas alterações nos cultos, vemos em uma sessão espírita surgir então a UMBANDA, anunciada em 15 de novembro de 1908, em Neves, subúrbio de Niterói, no Rio de Janeiro, pelo espírito que se identificou como “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, através do médium Zélio Fernandino de Moraes, então com dezessete anos de idade, usando pela primeira vez o vocábulo “Umbanda” como designação de culto e religião, definindo assim o novo movimento religioso como: “uma manifestação do espírito para Caridade”.



Tudo começou quando Zélio Fernandino de Moraes, nascido em 10 de abril de 1891, no bairro de Neves, município de Niterói, no Rio de Janeiro, aos seus dezessete anos estava se preparando para servir as Forças Armadas, através da Marinha, se acometeu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade. De princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou a seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram então um padre, também da família, que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.

Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.

O Pai de Zélio de Moraes Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar nenhum centro espírita, já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita e no dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo, levou Zélio a Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, se sentaram à mesa, onde logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio se levantou e disse que ali faltava uma flor, foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Iniciando uma estranha confusão no local, pelo fato ocorrido, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos, sendo advertidas pelo dirigente do trabalho. Então a entidade incorporada no rapaz perguntou:

"- Porque repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:

"- Porque o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?" Ele responde:

"- Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo lhes dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim." O vidente ainda pergunta:

"- Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?" Novamente ele responde:

"- Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei." 

No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, Niterói, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita, parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e iniciou o culto usando as seguintes palavras:

"- Aqui se inicia um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos, que desencarnaram e não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que terá base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".

Nessa reunião, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do culto, sendo que:

· Sua prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22 horas, para atendimento público, totalmente gratuito, passes e recuperação de obsedados.

· O uniforme a ser usado pelos médiuns seria todo branco e de tecido simples.

· Não se permitiria retribuição financeira pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados.

· Os Cânticos não seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas.

A esse novo culto, que se alicerçava nessa noite, a entidade deu o nome de UMBANDA e declarou fundado o primeiro templo para a sua prática, com a denominação de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, justificando o nome pelas seguintes palavras: "assim como Maria acolhe em seus braços o Filho; a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflição". Através de Zélio manifestou-se nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antônio, para completar as curas de enfermos iniciadas pelo Caboclo.

A partir dessa data, a casa da família de Zélio tornou-se a meta de enfermos, crentes, descrentes e curiosos. Os enfermos eram curados; os descrentes assistiam a provas irrefutáveis; os curiosos constatavam a presença de uma força superior; e os crentes aumentavam, dia a dia. Cinco anos mais tarde, manifestou-se o Orixá Malet exclusivamente para a cura de obsedados e o combate aos trabalhos de magia negra.

Vejamos então cronologicamente os principais acontecimentos da UMBANDA a partir de sua anunciação:

1. 15 de novembro de 1908 - Advento da UMBANDA e fundação do primeiro Terreiro de Umbanda, por Zélio de Moraes, em Neves, subúrbio de Niterói;

2. Novembro de 1918 - O Caboclo das Sete Encruzilhadas dá início à fundação de sete Tendas de Umbanda no Rio de Janeiro;

3. 1920 - A Umbanda espalha-se pelos Estados de São Paulo, Pará e Minas Gerais. Em 1926 chega ao Rio Grande do Sul e em 1932 em Porto Alegre;

4. 1924 - O advento do Caboclo Mirim - Manifestou-se no Rio de Janeiro, em um jovem médium, Benjamim Figueiredo, uma entidade, denominada Caboclo Mirim, que vinha com a finalidade de criar um novo núcleo de crescimento para a Umbanda;

5. 1939 - Os Templos fundados pelo Caboclo das Sete encruzilhadas reuniram-se, criando a Federação Espírita de Umbanda do Brasil, posteriormente denominada União Espiritualista de Umbanda do Brasil, incorporando dezenas de outros terreiros fundados por inspiração de "entidades" de Umbanda que trabalhavam ativamente no astral sob a orientação do fundador da Umbanda.

6. Outubro de 1941 - Reúne-se o Primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda. Outros Congressos havidos posteriormente retiraram acertadamente o nome espiritismo que, de fato, pertence aos espíritas brasileiros, os quais seguem a respeitável doutrina codificada por Alan Kardec. Em suma, o espírita pratica o espiritismo e o umbandista pratica a umbanda ou umbandismo. Neste Congresso foi também apresentada tese pela Tenda São Jerônimo, propondo a descriminalização da prática dos rituais de Umbanda. O autor, Dr. Jayme Madruga, a par de um minucioso estudo de todas as constituições já colocadas em vigência no Brasil, busca também em projetos como o da Constituição Farroupilha e nos códigos penais até então vigentes e no que haveria de vigorar após 01 de janeiro de 1942. Os argumentos mostravam que o caminho da Umbanda começava a ser aberto e que caberia aos Umbandistas buscarem acelerar o processo com declarações e resoluções, partindo daquele congresso, em prol da descriminalização da prática da Umbanda.

7. 1944 - Vários umbandistas ilustres, entre eles vários militares, políticos, intelectuais e jornalistas, apresentam ao então Presidente Getúlio Vargas um documento intitulado "O Culto da Umbanda em Face da Lei" e consegue daquela autoridade a descriminalização da Umbanda. Este fato, apesar de ter sido extremamente positivo, trouxe como subproduto uma perda de identidade muito grande por parte de nossa religião, uma vez que todos terreiros, das mais variadas seitas, incluíram em seus nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à repressão policial. Como nossa religião não tinha um rito claramente definido e nem a formação de sacerdotes, o que gera uma hierarquia, ela acabou ficando à mercê dessa deturpação; outro fato que fortaleceu essa descaracterização foi que, sendo um período de crescimento, não se buscava a qualidade dos Terreiros que se filiavam à Federação, ou à União que lhe sucedeu;

8. 12 de setembro de 1971 - Foi criado na cidade do Rio de Janeiro, o Conselho Nacional Deliberativo de Umbanda - CONDU, que congrega as Federações de Umbanda existentes ao longo do país, atualmente, contando com mais de 46 Federações, de norte a sul do país, reunindo representantes de mais de 40.000 Terreiros de Umbanda;

9. Em 1972, em mensagem psicografada por Omolubá, enviada pelo poeta Ângelo de Lys, confirma-se a origem da Umbanda no Brasil, através do médium Zélio de Moraes;

10. Em 1977, o CONDU reconhece, publicamente, como verdadeira a origem da Umbanda no Brasil;

11. Novembro de 1978 - Surge o livro "Fundamentos de Umbanda, Revelação Religiosa", de Israel Cisneiros e Omolubá, que aborda a questão da origem da Umbanda, através de mensagens do astral, trazendo, por fim, após 70 anos de existência da Umbanda, as primeiras bases teológicas e norteadoras da doutrina umbandista, com fundamentos integrais da nova religião e sua verdadeira origem. Após este momento podemos definir como sendo o início desse novo período; assume-se a Umbanda como religião brasileira e começa o primeiro movimento consistente para dar a ela uma base teológica e a criação de uma hierarquia, baseada na formação sacerdotal, fundamental para a manutenção das bases ritualísticas e conceituais.

Decorridos setenta anos de existência da Umbanda no Brasil, compreendidos entre 1908/1978, passou este curto espaço de tempo, porém significativo, a ser conhecido entre os estudiosos da causa como Período de Propagação da genuína força de credo, nascida no século XX, em terras brasileiras. Embora a Umbanda ainda se apresente, muitas das vezes, uma tanto desfigurada, com nuanças religiosas, reconhecemos que isso decorra desse período de propagação, onde no afã de conquistar almas se respeitaram os ambientes regionais, criando assim as adversidades que vemos hoje em dia. Mesmo assim ela nunca deixou, através de seus verdadeiros guias, de oferecer amparo prático, ajuda e orientação, apontando sempre a eterna chama da esperança em dias melhores, calcados, naturalmente, na ação correta á cada instante, na cordura, no companheirismo e na fraternidade.

Os mentores da Umbanda, sediados em Aruanda, cidade localizada no plano astral, já haviam determinado sabiamente o procedimento normativo, religioso para os setenta anos posteriores, 1979/2049, como sendo o período de Afirmação Doutrinária. Obviamente, a doutrina de Umbanda ficará como ponto essencial para a estabilidade desse movimento, no estudo constante e no esforço sincero de cada devoto, no sentido de conduzir-la no plano físico à um merecido status de religião organizada, a serviço da comunidade religiosa nacional. Em 1980 o CONDU publica o livro “Noções elementares de Umbanda” contendo as deliberações do conselho quanto aos fundamentos da Umbanda e outros temas. Hoje o movimento religioso da Umbanda estende-se por todo o Brasil, professado com humildade as leis da Caridade e do amor ao próximo, sem proselitismo, sem explorações do povo, e sem mistérios mistificantes. A Umbanda nada mais é que o retorno à simplicidade de cultuar Deus, onde o templo de Umbanda é o local destinado a esse culto, que tem como base a Caridade, usando para isso todos os recursos das forças da natureza, personificadas nas divindades Nagôs, os Orixás, que são representados pelos nossos mentores espirituais, ou como nós os chamamos, nossos guias, espíritos evoluídos que representam essas divindades e suas várias formas de atuação no mundo espiritual e material em favor ao próximo.

Existem várias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases iniciais e outras que absorveram características de outras religiões já existentes, mas que mantêm a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé. As mais conhecidas são:

· Umbanda Popular - Que era praticada antes de Zélio e conhecida como Macumbas ou Candomblés de Caboclos; onde podemos encontrar um forte sincretismo associando Santos Católicos aos Orixás Africanos;

· Umbanda tradicional - Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;

· Umbanda Branca e/ou de Mesa - Com um cunho espírita muito expressivo. Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos, nem o trabalho dos Exus e Pomba-giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinaria se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, preto-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas como fonte doutrinária;

· Umbanda Omolokô - Trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos Guias;

· Umbanda Traçada ou Umbandomblé - Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o candomblé em sessões diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em dias e horários diferentes;

· Umbanda Esotérica - É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a “Aumbhandan: conjunto de leis divinas";

· Umbanda Iniciática - É derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Mestre Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária, sete ritos, e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito;

· Umbanda de Caboclo - influência da cultura indígena brasileira com seu foco principal nas entidades conhecidas como "Caboclos";

· Umbanda de Preto-velhos - influência da cultura Africana, onde podemos encontrar elementos sincréticos, o culto aos Orixás, e onde o comando é feito pelos preto-velhos;

Outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada, diferenciam-se das outras por diversos aspectos peculiares.

A Umbanda por ser uma religião sincrética se utiliza de um vasto simbolismo em seus trabalhos, e ela tem nesse simbolismo um de seus maiores fundamentos, que se aplica na identificação das entidades e na sustentação das linhas de trabalhos espirituais, cada qual com seu nível vibratório. Esse simbolismo também identifica o campo vibratório a qual a entidade desenvolve seu trabalho, e sob qual Orixá, ou força da natureza, é regido.

Podemos observar esse simbolismo desde sua anunciação onde grande mentor espiritual, que teve a missão de rasgar o véu da ignorância e estabelecer os fundamentos da Umbanda como religião e culto, se manifestou na forma perispiritual e se identificou como “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, nome este totalmente simbólico, pois “Caboclo” era a palavra destinada às pessoas mestiças, e “Sete Encruzilhadas”, que são as sete linhas de trabalhos da Umbanda, os sete caminhos, que são regidos pelo Pai maior “Oxalá”. Assim concluímos que a Umbanda é uma religião sem distinção de raças e credos e que através da fé e da humildade tem o objetivo de levar a mensagem da Caridade e do Amor ao próximo.

Com isso a espiritualidade vem conseguindo seu intento e aos poucos vemos sumir dos corações oprimidos o desejo de vingança, o ódio e o rancor, os cultos antes deturpados vêm se transformando em sua essência, auxiliando assim no progresso daqueles que sintonizam com tais expressões religiosas, modificando seu aspecto e os transformando gradativamente em uma religião mais espiritualizada. Onde na palavra das entidades, a Lei da causa e efeito é ensinada por meio de “Xangô”, que simboliza a justiça, a reencarnação quando falam, de sua outra vida e da oportunidade de voltar a Terra, em um novo corpo, para corrigir erros do passado e ajudar seus filhos, as forças das matas e das ervas, são ensinadas na fala dos Caboclos de “Oxossi”, o Amor é personificado em “Oxum”, e a força de transformação e a energia da vitalidade se apresentam personificados em “Ogum”.

Mas ainda há muito que fazer, muito trabalho a realizar, nossa explicação não esgota o assunto, mostra apenas um aspecto da Umbanda, que guarda suas raízes em épocas muito distantes do tempo, e que apesar de ser uma religião nova, com um século de existência, vem crescendo e ganhando forças a cada dia.

Uma pena, muitos dirigentes de terreiros não serem conscientes de tudo isso, e é essa ignorância a maior responsável pela visão errada que a maioria das pessoas tem em relação aos rituais sagrados da Umbanda. Por isso é que devemos nos instruir cada vez mais sobre os fundamentos e raízes de nossa religião, e que através desse estudo e da experiência que vivenciarmos na prática dentro do terreiro, possamos corrigir todos esses equívocos.

Fonte:"Estudos de Umbanda – Jorge Botelho”




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06/10/2013

Sincretismo Religioso e Suas Origens no Brasil





Sincretismo religioso

Sincretismo é a fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas quanto nas filosóficas. Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes ou a influência exercida por uma religião nas práticas de uma outra.


No Brasil o sincretismo religioso é uma prática bastante comum. Mas tudo começou a partir do ano de 1500, quando o território brasileiro tornou-se palco para o encontro de três grandes tradições culturais: a ameríndia, nativa da terra; a européia, trazida pelos colonizadores portugueses e mais tarde a africana, trazida pelos escravos bantos e sudaneses. Um encontro que foi, desde o início, marcado pela imposição da cultura européia às populações indígenas e africanas, refletida, principalmente, na imposição da cultura cristã da Igreja Católica Apostólica Romana a esses dois grupos.


Para se viver no Brasil, nesta época, o índio e o negro mesmo como escravo, e principalmente depois, sendo livre, era indispensável antes de mais nada, ser católico. Por isso eles que cultuavam seus deuses e tinham suas bases religiosas bem estruturadas, no Brasil se diziam católicos e se comportavam como tais, além de praticarem os rituais de seus ancestrais, frequentavam os ritos católicos.

Há antropólogos que insistem que a assimilação entre os Santos e os Orixás era aparente e, inicialmente, serviu para encobrir a verdadeira devoção aos seus deuses, pelo fato dos cânticos nesses rituais terem sido efetuados em língua nativa e que ninguém os entendia. Um fato histórico que pode opor-se a este pensamento é a criação das confrarias de negros, como exemplo temos a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na Bahia, que era totalmente composta por negros que haviam realmente se convertido ao Cristianismo e não eram apenas uma fachada.


Essa tentativa forçada de aculturação sempre encontrou resistência, o que acabou resultando em várias tentativas feitas por indígenas e africanos de conciliar os princípios de suas culturas e, por conseqüência, de suas tradições religiosas, a doutrina cultural e religiosa que lhes eram impostas. Na tentativa de preservação dos princípios e práticas religiosas indígenas e africanas, por meio da conciliação com os princípios e práticas católicas, acabaram levando ao nascimento de várias manifestações sincréticas em solo brasileiro, únicas no mundo, algumas delas existentes até os dias de hoje. Mas infelizmente existem poucos estudos sobre a grande maioria delas, o que veremos aqui, é uma pequena ideia de como eram as bases dessas duas culturas religiosas, o sincretismo entre elas e os processos que as levaram a dar origem a outras.



O início de tudo se deu com a religiosidade Tupi, embora várias nações indígenas habitassem o território brasileiro durante os primeiros anos da colonização européia, nenhum grupo foi tão influenciado pelos portugueses quanto os tupis, que no século XVI dominava quase todo o litoral brasileiro e era formada pelas tribos: Potiguar, Tremembé, Tabajara, Caeté, Tupinambá, Aimoré, Tupiniquim, Temiminó, Tamoio, e Carijó.


É muito difícil tentar reconstruir com detalhes as tradições religiosas e crenças tupis na época do descobrimento do Brasil, pois o que sabemos sobre elas deve-se aos relatos feitos por europeus que se estabeleceram aqui no início do período colonial, os quais não se preocuparam em estudar e deixar registros detalhados das mesmas.

O que podemos apreender dos relatos dos primeiros colonizadores sobre a religiosidade tupi foi que seu ponto central era o culto à natureza deificada ou divinizada. O pajé e o feiticeiro, ou xamã, eram os que tinham acesso ao mundo dos mortos e dos espíritos da floresta, e geralmente a eles competiam realizar rituais de cura de doenças, expulsarem maus espíritos que se alojavam nos corpos das pessoas e desfazer feitiços mandados pelos inimigos. A ingestão de alimentos e bebidas fermentadas em muitos grupos tinha uma função ritualística. Mesmo a antropofagia5 que caracterizou os tupinambás se revestia de um tom sagrado, pois acreditavam que, comendo a carne dos seus inimigos, apoderavam-se de sua valentia e coragem.

Os tupis possuíam uma divindade suprema do bem que denominavam Nhanderuvuçu, deus da criação e da luz e a quem competia o ato divino do sopro da vida. Nhanderuvuçu teria sua morada no Sol, manifestava-se nas tempestades através de sua voz, na forma de Tupã Cinunga6 e de seu reflexo, na forma de Tupã Beraba7. Segundo Câmara Cascudo e Osvaldo Orico, grandes historiadores e estudiosos da cultura brasileira, somente com o trabalho da catequese, e com a confusão feita pelos jesuítas, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã8, em virtude das formas como essa divindade se manifestava durante as tempestades. Os tupis acreditavam também em outras divindades, como Guaraci (o deus do sol), Jaci (deusa da lua), Caapora (deus da floresta), Uirapuru (deus dos pássaros), Iara (deusa das águas) e em uma entidade civilizadora denominada Iurupari9, filho da virgem Chiuci, que teria sido mandado à terra por Guaraci para reformar os costumes dos seres humanos.

Segundo Diamantino Trindade essa crença que lembrava muito a história de Jesus Cristo, teria deixado os jesuítas apavorados. Como forma de tornar a religião católica mais fácil de ser assimilada pelos indígenas, os jesuítas associou ao seu deus e santos os nomes de algumas divindades tupis. Foi assim, por exemplo, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã e foi transformado em Deus/Pai. Entretanto, na maioria dos casos, os jesuítas associaram os deuses indígenas aos demônios da doutrina católica. Foi o caso, por exemplo, de Iurupari, que teve sua imagem totalmente invertida e acabou sendo associado ao próprio diabo, embora sua história lembrasse muito a de Jesus.



Isso tudo acabou gerando a primeira religião sincrética surgida no Brasil da junção da Religiosidade Tupi e do Catolicismo, que ficou conhecida como SANTIDADE, nome criado por Manoel da Nóbrega, em 1549, quando viu um pajé em transe pregando a outros indígenas. Os adeptos da Santidade cultuavam um ídolo de pedra, chamado de Tupanaçu, que acreditavam possuir poderes sagrados, rezavam usando cruzes, terços e rosários, construíam “igrejas” e colocavam tábuas com desenhos de símbolos sagradas nelas, cultuavam alguns santos católicos e entoavam cantos em honra aos mesmos, faziam um ritual semelhante ao batismo e realizavam procissões.



Neste mesmo período, com o início dos trabalhos de catequese na região amazônica, a partir da cidade de São Luís do Maranhão, iniciou-se um processo de sincretismo entre a religiosidade ameríndia local e o catolicismo, semelhante ao que ocorrera no litoral, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida pelo nome de PAJELANÇA. Embora o termo pajelança acabe sendo usado também para designar todo e qualquer ritual ameríndio, ele aqui designa a religião sincrética de caráter mágico-curativa que ainda existe nos dias de hoje na região amazônica, sobretudo nos estados do Pará e do Amazonas.


A exemplo da Santidade, nos rituais da Pajelança são encontrados o uso de trajes nativos (pena, arco, flecha, colares, máscaras), cantos e danças, a fumaça derivada da queima do tabaco e o consumo de bebidas fermentadas, que permitem ao pajé entrar em transe místico e ter visões e incorporar espíritos. Em algumas Pajelanças pode-se encontrar também a devoção aos santos católicos. Uma característica marcante da Pajelança é que além de incorporarem os espíritos dos antepassados das tribos e de antigos chefes do culto, os pajés também incorporam espíritos animais, sejam eles reais como: jacarés, botos, cavalos-marinhos, cobras ou imaginários como: mãe d'água, cobra-grande, e por meio dos quais descobriam a causa das doenças de seus consulentes e os remédios para eles.



A partir do século XV inicia-se uma das maiores migrações forçadas da história da humanidade, na qual milhões de africanos que haviam sido capturados em seus territórios ancestrais, na maioria das vezes por outros africanos de tribos rivais, foram levados para o litoral e vendidos como escravos para os europeus e brasileiros em portos específicos na África e trazidos nessas condições para o Brasil. No final do século XVI ao final do século XVIII, a principal etnia trazida para o Brasil foi a dos Bantos, povo que durante o período colonial brasileiro ocupava a maior parte do continente africano situado ao sul do equador, na região onde hoje está localizado o Congo, a República Democrática do Congo, Angola e Moçambique, entre outros. Parece que a grande maioria dos Bantos que foram trazidos para o Brasil cultuava um deus supremo chamado de Nzambi, Nzambi Mpungu ou Anganga Nzambi, ou simplesmente Zambi como é conhecido hoje, e a natureza deificada que era personificada nas divindades chamadas Nkises.


Assim que chegavam ao Brasil, os africanos escravizados eram logo submetidos à aculturação portuguesa, traduzida principalmente na catequese católica: eram batizados e recebiam um nome “cristão”, pelo qual seriam conhecidos a partir daquele momento. Assim como os tupis, os bantos também tentando preservar suas tradições religiosas no Brasil, adaptaram suas crenças às condições de escravidão que estavam submetidos. A principal forma encontrada por eles, como foi feito também pelos tupis décadas antes, foi associar os santos católicos aos seus deuses, no caso aqui os Nkises, de acordo com as características ou arquétipos que ambos possuíam em comum.



Foi a partir deste sincretismo, ocorrido no interior das senzalas a partir do final do século XVI, que nasceu a primeira manifestação sincrética da religiosidade banto/católica no Brasil: o CALUNDU. Seu nome foi originado da palavra banto Kilundu, que até o século XVIII foi utilizada para designar genericamente a manifestação de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia.


O que nos chama a atenção são os relatos da aparente tolerância manifestada pelos proprietários de escravos ao Calundu. Muito provavelmente essa atitude devia-se a crença de que com essa prática os africanos manteriam vivas, pelo menos dentro da senzala, as rivalidades tribais existentes na África, o que dificultaria a formação de rebeliões ou fugas. É importante ressaltar que, apesar dessa tolerância, os aspectos ritualísticos do Calundu ligados a magia e a incorporação de espíritos eram freqüentemente combatidos por serem considerados coisas malignas, surgindo daí a expressão magia negra para designar a magia voltada para o mal, que na mentalidade da época era “coisa de negro”.


Ao longo de todo o período de escravidão negra no Brasil, inúmeras foram as tentativas bem sucedidas de fugas das senzalas empreendidas pelos africanos. Os relatos dos inúmeros quilombos10 existentes no país ao longo dos períodos colonial e imperial são a prova mais marcante disso. Entretanto, no início, antes do surgimento dos primeiros quilombos, os africanos que conseguiam sucesso em suas fugas só conseguiam abrigo nas aldeias indígenas do interior. Mais do que abrigar os primeiros africanos bantos fugidos das senzalas, as aldeias indígenas abrigariam toda a cultura e religiosidade deles, que acabaria por influenciar sua própria cultura e religiosidade.



Muito provavelmente no nordeste do século XVII, onde uma pequena parcela de religiosidade dos bantos acabou se misturando ao sincretismo ameríndio-católico do interior, levando ao surgimento da primeira religião sincrética brasileira, o CATIMBÓ, surgida da fusão religiosa dos três povos formadores do país, também conhecido como CULTO À JUREMA, resistente até os dias de hoje em todo o nordeste brasileiro.

Apesar de existirem a incorporação de Caboclos no Catimbó, seu culto baseia-se principalmente nas entidades conhecidas como Mestres da Jurema ou apenas Mestres, e é através deles que se realiza o principal trabalho das entidades do Catimbó, a cura de doenças e a receita de remédios para os males físicos, podendo também ocorrer trabalhos para solucionar alguns problemas materiais e amorosos. Cabe também aos Mestres e aos Caboclos realizar a limpeza espiritual dos adeptos e a expulsar maus espíritos das pessoas. Os Mestres são entidades que se especializam em determinada erva ou raiz e que guardam muito do comportamento e personalidade de sua última encarnação, o que os torna muito naturais e espontâneos, além de possuírem uma forte ligação com a sua caracterização física. Uma característica que chama a atenção é que não existem Mestres do bem ou do mal: eles tanto podem trabalhar para um quanto para o outro, dependendo da orientação do local de culto e do médium.


Ao longo dos séculos XVII e XVIII cresce consideravelmente o número de cidades em todo o país, devido a esse fato, surge uma situação completamente nova em todo o território colonial: o aumento do número de negros e mulatos alforriados, livres, e de escravos circulando com relativa liberdade nessas áreas urbanas. A partir das residências desses negros e mulatos livres, localizadas em sua grande maioria em casebres e cortiços, que as manifestações religiosas de origem africana encontraram condições mínimas para se desenvolverem, onde poderiam realizar suas festas com certa freqüência, construírem e preservarem seus altares com os recipientes consagrados aos seus deuses. São nessas residências que surgem, em fins do século XVIII e início do século XIX, uma nova manifestação sincrética brasileira, que ficou conhecida na Bahia como CASAS DE CANDOMBLÉ.




O Candomblé surge então com base no fortalecimento das tradições religiosas dos bantos preservadas no sincretismo com o Calundu e a assimilação de algumas poucas práticas indígenas que sobreviviam nos quilombos e nas aldeias indígenas dos arredores deles. Pelo fato de servirem como moradia e também como locais de culto, as Casas de Candomblé se estruturavam com base em famílias-de-santo, que estabelecia entre seus adeptos uma espécie de parentesco religioso, característica que foi um importante legado a outras religiões sincréticas que se originaram a partir dele.
Já a partir da década de 1840 intensifica-se o tráfico de escravos da etnia sudanesa através da “Rota da Mina”, que tinha como origem os portos africanos de Lagos, Calabar e, principalmente São Jorge da Mina, superando no período todas as demais em termos de escravos trazidos ao Brasil. A etnia sudanesa era originada principalmente da África Ocidental, na região onde hoje está localizado a Nigéria, Benin, Togo e Gana, e é formada pelos povos Iorubá, Ewe, Fon e Mahin, entre outros.


Apesar de inicialmente muitos terem ficado conhecidos apenas como mina, ao longo do século XIX os escravos da etnia sudanesa passaram a ser conhecidos sobre outra nomenclatura, devido a rivalidade e a diferença cultural existente entre os povos Iorubá e Ewe/Fon, que foi transportada da África para o Brasil junto com eles. Dessa forma, o povo Yorubá passou a ser conhecido no Brasil como mina-nagô ou nagô, enquanto os povos Ewe, Fon e Mahin ficaram conhecidos como mina-jeje ou jeje, termo que advém do iorubá adjeje que significa estrangeiro ou forasteiro, e era usada de forma pejorativa pelos yorubás para designar as pessoas que habitavam a leste de seu território.


Os nagôs que foram trazidos para o Brasil cultuavam um deus supremo chamado de Olorun ou Olodumaré e a natureza também deificada e personificada nas divindades chamadas Orixás. Apesar de na África existirem cerca de 400 Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo poucos os que possuíam um culto em várias localidades.


Assim como ocorreu com os bantos, os escravos sudaneses trouxeram para o Brasil parte de sua cultura e de suas crenças religiosas, que foram pouco a pouco levadas para dentro de algumas manifestações sincréticas aqui existentes, devido aos escravos fugidos que buscavam refúgio nos quilombos e depois aos negros já alforriados, levando ao aparecimento de diversas religiões sincréticas em solo brasileiro no século XIX, muitas delas com base nas Casas de Candomblé.


Com a intensificação da adição de elementos sudaneses às Casas de Candomblés no séc. XIX, estas acabaram por darem origem a uma nova religião sincrética brasileira conhecida como CANDOMBLÉ DE NAÇÃO, ao qual agrega dentro de si três modelos de culto relacionados às principais etnias e povos trazidos como escravos para o Brasil: os bantos, os sudaneses nagôs e os sudaneses jeje.


Vejamos então como são esses modelos existentes:


1º- Os Candomblés de Nação Angola, Congo e Muxicongo cultuam um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo) e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Nkises. Apesar de na África existirem cerca de 450 Voduns, e a exemplo do que ocorre com os Orixás, a grande maioria deles era cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo também poucos os que possuíam um culto em várias localidades.

Vejamos no quadro abaixo os principais Nkises cultuados nesses Candomblés:




NKISES
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Nzambi ou Zambi
Deus supremo
Mpungu (todo poderoso) e muambi (criador) são qualidades de Nzambi

Lembá
Nkise da paz, conectado à criação do mundo



Kaitumbá, Kokueto e Mikaiá
Nkise dos mares e oceanos



Nkosi
Nkise da guerra, senhor dos caminhos, das estradas e da metalurgia
Mukumbe, Biolê e Buré são qualidades desse Nkise

Teleku-Mpensu
Nkise da pesca



Gongobira
Nkise da caça e da pesca



Kabila
Nkise do pastoreio e da caça



Mutakalambo
Nkise da caça e da comida abundante



Katende
Nkise das folhas e dos segredos das ervas medicinais



Nvunji
Nkise da justiça, da felicidade da juventude e do nascimento das crianças



Nzazi ou Zazi
Nkise dos raios e da entrega de justiça aos humanos



Luango
Nkise dos trovões e auxiliar de Nvunji no nascimento de crianças



Kaiangu
Nkise guerreira dos ventos, das tempestades e que possui domínio sobre os espíritos dos mortos
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula são qualidades desse Nkise

Kitembo ou Tempo
Nkise do tempo e das estações
Patrono da nação Angola, representado por um mastro com uma bandeira branca

Nzumbarandá ou Zumbaradá
Nkise da terra molhada, da água turva dos pântanos, ligada à morte e a mais velha dos Inquices



Kisimbi, Samba Nkise
Nkise de lagos e rios, a grande mãe



Ndanda-Lunda
Nkise da água potável, das águas calmas, da lua e da fertilidade



Hongolo ou Angorô
Nkise do arco-íris, auxilia na comunicação entre os humanos e os outros Inquices
Na sua manifestação feminina é chamado de Hongolo Meia ou Angoroméa. Representado por uma cobra

Kafungê e Kaviungo ou Kavungo
Nkise da varíola, das doenças, da saúde e da morte



Nsumbu
Nkise da terra
Nação Angola

Ntoto
Nkise da terra
Nação Congo

Aluvaiá, Vangira, Pambu Njila e Bombo Njila
Nkise mensageiro, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas e templos


2º- Os Candomblés de Nação Ketu, Efã e Ijexá cultuam um deus supremo chamado de Olorun ou Olodumaré e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Orixás. Um fato que chama a atenção é que algumas divindades que originalmente eram Voduns na África foram adicionadas ao panteão nagô e passaram a fazer parte do ritual, sendo inclusive consideradas no Brasil como Orixás.

Vejamos então no quadro abaixo alguns Orixás cultuados nesses Candomblés:




ORIXÁS
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Olorum ou Olodumaré
Deus supremo



Oxaguiã
Orixá da criação da cultura material e da sobrevivência.
Considerado a manifestação jovem de Oxalá (ou Obatalá).
Originalmente, na África, é filho de Oxalufã e neto de Obatalá.

Oxalufã
Orixá da criação da humanidade, do sopro da vida
Considerado a manifestação idosa de Oxalá (ou Obatalá). Originalmente, na África, é o filho de Obatalá.

Yemanjá
Orixá das grandes águas, do mar e do oceano, da maternidade, da família e da saúde mental



Ogum
Orixá da metalurgia, da agricultura, da tecnologia, das estradas e da guerra



Xangô
Orixá do trovão e da justiça



Oxóssi
Orixá da fauna, da caça e da fartura de alimentos
É também conhecido como Odé.

Ossaim
Orixá da vegetação e da flora, da eficácia dos remédios e da medicina



Nanã
Orixá da lama do fundo das águas, dos pântanos, da educação, da velhice e da morte
Originalmente, na África, era um Vodum e não um Orixá.

Ewá
Orixá das fontes, nascentes e riachos e da harmonia doméstica
Originalmente, na África, era um Vodum e não um Orixá.

Logun Edé
Orixá dos rios que correm nas florestas



Obá
Orixá dos rios, dos trabalhos domésticos e do poder da mulher



Oyá
Orixá do relâmpago, da sensualidade e dona dos espíritos dos mortos
É também chamada de Iansã.

Oxum
Orixá da água doce, do amor, da fertilidade, da gestação, dos metais preciosos e da vaidade



Oxumarê
Orixá do arco-íris e da riqueza que provém das colheitas







Obaluaiê
Orixá da varíola, pragas, doenças e da cura de doenças físicas




É também chamado de Omulu ou Xapanã. Originalmente, na África, Obaluaiê e Omulu é, respectivamente, a manifestação jovem e velha do Vodum Xapanã.

Orunmilá-Ifá
Orixá do destino





Exu




Orixá mensageiro, da transformação e da potência sexual, guardião das encruzilhadas e da entrada das casas


3º- Os Candomblés de Nação Jeje-Fon e Jeje-Mahin cultuam uma deusa suprema chamada de Mawu e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Voduns. Tais divindades são agrupadas em famílias (Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso, etc.), as quais se subdividem em linhagens, interligadas entre si por comportamentos, costumes, gostos e atitudes. Apesar de existir na África cerca de 450 Voduns, a grande maioria não é cultuada aqui no Brasil. Os que aqui são cultuados, somente alguns chegam a ter culto a nível nacional, ficando a maioria restrita a nível regional. Uma característica dessa Nação é que quando estão incorporados, os Voduns mantêm os olhos abertos e conversam com a assistência, dando bênçãos, conselhos e recados. Vejamos então no quadro abaixo, alguns Voduns cultuados no Candomblé de Nação Jeje- Fon e Jeje-Mahin:





VODUNS
ATRIBUTOS
OBSERVAÇÕES

Nanã Buluku
A grande mãe universal, senhora da lama
Mãe de Mawu e Lissá

Mawu
Deusa suprema



Lissá
Vodum masculino co-responsável pela criação junto com Mawu



Loko
Primogênito dos Voduns



Agassu
Vodum que representa a linhagem real do Reino do Daomé



Agbê
Vodum dono dos mares



Gu
Vodum dos metais, da guerra, do fogo e da tecnologia.



Agué
Vodum da caça e protetor das florestas



Aguê
Vodum que representa a terra firme



Ayizan
Vodum dona da crosta terrestre e dos mercados



Aziri
Vodum das águas doces



Dan
Vodum da riqueza
Representado pela serpente e pelo arco-íris

Eku
Vodum da morte, da feitiçaria e da clarividência



Fa
Vodum da adivinhação e do destino



Hevioso
Vodum dos raios e relâmpagos



Possun
Vodum do pó e da terra seca
Representado pelo tigre

Sakpatá
Vodum da varíola



Legba
Vodum das entradas e das saídas e da sexualidade
O filho caçula de Mawu e Lissá



Dentre todos os Candomblés de Nação, sejam eles do modelo de culto banto, sudanês nagô ou sudanês jeje, o que apresenta maior projeção nacional é o Candomblé de Nação Ketu. Tal projeção tem provocado, atualmente, um fenômeno de assimilação das práticas rituais dessa nação pelas demais, como o idioma e as cantigas utilizadas, a forma como os atabaques são tocados e o culto as divindades. Sobre este aspecto, é interessante notar o sincretismo que tem surgido atualmente dos Nkises e dos Voduns com as lendas, histórias, domínios, cores e símbolos dos Orixás da nação Ketu, como se aqueles fossem estes com nomes diferentes. Nos Candomblés de Nação do modelo nagô existe ainda o culto aos eguns, ou espíritos dos ancestrais, que ocorre no quarto de balê, um recinto separado do local onde se cultua os Orixás, e que possui um sacerdote próprio, chamado de Baba Ojé, preparado especialmente para este tipo de culto.

Atualmente um fenômeno interessante que parece ter surgido no Candomblé de Nação Ketu, e dele se espalhado para as demais nações, é o movimento de recuperação das raízes africanas, o qual vem rejeitando o sincretismo com o catolicismo e com as práticas indígenas buscando o aprendizado da língua nativa e a redescoberta dos ritos, histórias e lendas das divindades que se perderam ao longo do tempo, contando, inclusive, com viagem de sacerdotes do Brasil até a Nigéria e o Benin a fim de realizarem pesquisas “in loco” 11 em aldeias e templos na África para aprenderem os rituais que foram perdidos nas brumas do tempo da escravidão.

No final do século XIX e início do século XX, tradições religiosas da etnia sudanesa foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-católico-ameríndio existentes também no Rio de Janeiro, levando ao surgimento dos sincretismos conhecidos como ZUNGU e MACUMBA.

Parece que os termos Zungu e Macumba foram usados indistintamente no Rio de Janeiro para designar quaisquer manifestações sincréticas de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia, englobando uma grande variedade de cerimônias que associavam elementos africanos (Nkises, Orixás, atabaques, transe mediúnico, trajes rituais, banho de ervas, sacrifícios de animais), católicos (cruzes, crucifixos, anjos e santos) e, mais raramente, indígenas (banho de ervas, fumo). A diferença básica entre eles parece ser apenas o período em que estes termos foram utilizados: zungu, em meados do século XIX e macumba, no final do século XIX e início do século XX substituindo o termo zungu.

Na Macumba o chefe de culto e o seu ajudante eram chamados, respectivamente, de embanda e cambone, embora este último também pudesse ser chamado de cambono. Parece que os iniciados na Macumba eram chamados de filhos(as)-de-santo ou médiuns.

O que se sabe sobre os rituais da Macumba é que as entidades como os orixás, Nkises, caboclos e os santos católicos eram agrupados por falanges ou linhas como a linha da Costa, de Umbanda, de Quimbanda, de Mina, de Cabinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, linha Cruzada, etc; e que quanto maior o número de linhas cultuadas pelo embanda, mais poderoso ele era considerado, uma vez que isso era tido como sinal de maior conhecimento sobre o mundo dos espíritos.

E assim como em outros sincretismos brasileiros, o Zungu e a Macumba eram organizados basicamente em torno de seu chefe de culto, fazendo de cada unidade de culto algo único, diferindo dos demais por um ou mais elementos ritualísticos. Devido a grande penetração que a Macumba tinha na população mais pobre e marginalizada do Rio de Janeiro de fins do século XIX, principalmente os afrodescendentes recém libertos pela Lei Áurea, seu nome acabou se popularizando por todo o país e até hoje ainda é usado para designar pejorativamente qualquer religião afro-brasileira ou ritual que envolva magia.

É provável que a Macumba tenha desaparecido do cenário religioso carioca devido ao aparecimento mais tarde da Umbanda e a sua rápida expansão no estado do Rio de Janeiro, principalmente na então capital federal, que teria atraído para si um expressivo número de adeptos da Macumba e a influenciado de tal forma que levaram muitas casas de Macumba a se transformarem em tendas de Umbanda ou em casas de Omolokô para fugirem da repressão que se tinha a esses cultos.

Mudanças na estrutura de algumas casas de Macumba do Rio de Janeiro, então capital do país, neste mesmo período, acabam levando ao surgimento de duas religiões sincréticas o OMOLOKÔ e “ALMAS E ANGOLA”, que guardam muitas semelhanças com algumas vertentes da Umbanda, inclusive existindo muitas casas que se reconhecem como sendo de “Umbanda Omolokô” ou Umbanda em “Almas e Angola”.

No Omolokô que é praticado hoje em dia o ritual recebeu forte influência das obras daquele que é considerado o seu organizador: Tatá Ti Nkise Tancredo da Silva Pinto. Segundo ele, o Omolokô tem como origem as práticas religiosas dos bantos das tribos Quiôcos, das províncias de Lunda Norte e Lunda Sul, situadas na região oriental de Angola e que também pode ser encontrados em parte da República Democrática do Congo e da Zâmbia.



O Omolokô cultua um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo), a natureza deificada personificada nos Orixás e nas entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianças, Exus e Pomba-giras.

Originalmente o termo utilizado no Omolokô para designar a natureza deificada era Bacuro. Os Bacuros possuíam um correspondente nas divindades dos Quiôcos, que parecem terem ficado conhecidas aqui no Brasil como Lunda. Atualmente o termo Bacuro e o nome das divindades Quiôcos foram substituídos, respectivamente, pelo termo Orixá e pelo nome das divindades do panteão nagô que possuem os mesmos atributos ou arquétipos. É importante ressaltar que, no Omolokô, o termo Orixá é utilizado também para designar alguns Nkises que foram incorporados ao seu panteão, provavelmente por influência dos Candomblés de Nação do modelo de culto banto.

Vejamos então no quadro abaixo como é a correspondência entre as divindades Lunda, Bacuros e os Orixás no Omolokô:





Lunda (divindades dos Quiôcos)
Bacuro (nome original no Omolokô)
Orixá (nome atual no Omolokô)

Dundu Kianguim
Aluvaiá
Exu



Angorô
Oxumarê

Dandu Kindelé
Burunguça
Omulu



Caculu ou Cabasa
Ibeiji



Cuiganga
Ewá

Anili Kindelé
Dandalunda
Yemanjá

Kindele
Ferimã
Oxalá

Uisu Kukusuka
Inhapopô
Iansã

Kianguim Kindelé
Jambangurim
Xangô

Mulombe
Kamba Lassinda
Oxum

Kianguim Uisu
Kangira
Ogum



Karamocê
Obá



Katendê
Ossaim

Uisi
Madé
Oxóssi

Diambanganga
Pagauô
Irôko

Numba Kindelé
Querequerê
Nanã



Teleku-Mpensu
Logun Edé



Kitembu
Tempo




Uma possível influência da Umbanda sobre o Omolokô é a existência de uma separação dos Orixás em duas classes: Orixás Maiores e Orixás Menores. Os Orixás Maiores, ou apenas Orixás, são entendidos como sendo uma energia emanada de Zambi e portanto nunca passaram pelo processo de encarnação. São os responsáveis pelo movimento da natureza e pela formação e manutenção da vida. São considerados onipresentes e únicos. Os Orixás Menores, por sua vez, são entendidos como espíritos que passaram pelo processo de reencarnação e que alcançaram uma grande elevação espiritual e que por isso foram dotados de poderes sobrenaturais pelos Orixás Maiores, sendo considerados os intermediários entre estes últimos e os demais espíritos. Por este motivo, eles utilizam o nome do Orixá Maior ao qual estão subordinados seguidos de um sobrenome, chamado de Dijina12, por exemplo: Ogum Beira Mar, Seria um Orixá Menor subordinado do Orixá maior Ogum.

No Omolokô não existe incorporação de Orixás Maiores, apenas dos Orixás Menores e dos espíritos chamados de eguns. Os eguns aqui espíritos que já possuem certa compreensão espiritual, porém ainda não alcançaram a elevação dos Orixás Menores. São considerados eguns: os Caboclos, os Preto-Velhos, as Crianças, os Exus e as Pombas-gira. Existe ainda uma terceira classe de espíritos, chamados de quiumbas ou kiumbas, que são entendidos como espíritos atrasados e que ainda não alcançaram uma compreensão das coisas espirituais.

Já a religião sincrética conhecida como “ALMAS E ANGOLA”, que apesar de ser originária da capital fluminense, atualmente não é mais praticado nesse estado, hoje em dia podemos encontrá-la quase que exclusivamente na região da grande Florianópolis, em Santa Catarina.

A religião “Almas e Angola” guarda muita semelhança com o Omolokô e com algumas vertentes da Umbanda, ela cultua um deus supremo chamado Zambi, mas em algumas casas também é chamado de Olorum, a natureza deificada personificada nos Orixás e as entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianças, Exus e Pombas-gira. O Orixá Obaluaiê é considerado a força maior do ritual de “Almas e Angola”, tendo destaque nos altares dessa religião.



*


5- Antropofagia: Aqueles que comem carne humana 6- Tupã Cinunga: “O trovão”. 7- Tupã Beraba: “O relâmpago”. 8- Tupã: “Golpe estrondeante” ou “Baque estrondeante”. 9- Iurupari: O mártir ou o sacrificado. 10- Quilombo: Um quilombo era um local de refúgio dos escravos no Brasil, em sua maioria afrodescendentes (negros e mestiços), havendo minorias indígenas e brancas. O mais famoso na História do Brasil foi o de Palmares. 11- In Loco: Termo do Latim que significa no local. 12- Dijina: Palavra de origem kimbundo “Rijina”, dialeto bantu que significa "nome" ou “apelido”.



Texto retirado do Livro “Sincretismos Religiosos Brasileiros” - Renato Henrique Guimarães Dias.




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