Tudo evolui, o progresso é bem-vindo, o aprimoramento de conceitos e ritos trazido pelas próprias entidades é salutar, acompanha o desenvolvimento integral do ser humano, isto é esperado e aceito.
O que não dá para aceitar é o descaso com a origem, com o fundamento básico da religião, que é o mediunismo utilizando-se de elementos da natureza, das boas intenções, com os únicos propósitos da caridade desinteressada e de aprender sobre a doutrina, sendo útil de alguma forma.
É certo que sempre houve charlatões, não somente na Umbanda, mas em todas as religiões. É o lado treva de muitos que compõem a sociedade desde tempos remotos.
Com o advento da internet até os dias atuais o que se vê é o crescimento do charlatanismo em massa, a busca desenfreada do sucesso pessoal, do brilho e do dinheiro. A Umbanda está sendo meio de vida para muitos que se disfarçam de umbandistas.
Podemos enumerar a Umbanda na internet por "eras":
1) Era do Orkut: tudo online era novidade e as pessoas estavam deslumbradas, estavam tendo as primeiras experiências nesta plataforma, ainda não tinham atinado para o vil metal. As comunidades de Umbanda no Orkut eram ingênuas, as pessoas queriam mesmo só trocar conhecimentos de forma sadia.
2) Era dos grupos de discussão, o mais conhecido era o grupo do Yahoo: nesta plataforma a distribuição de conteúdos era mais elaborada, já existiam os blogs, e já se podia perceber o início de uma competição pessoal de quem sabe mais o quê.
3) Era dos blogs e sites: quando estes se tornaram mais populares, um pequeno grupo de pseudos umbandistas começaram a vender cursos, era curso de Oxalá a Exu, do Aiê ao Orum, de ervas a mandingas, até o absurdo do curso de Sacerdote.
4) Era do Facebook: no início a intenção era angariar pessoas para os cursos dos seus sites, como não deu muito certo passou-se para:
5) Era do YouTube: aqui, matavam dois coelhos com uma só cajadada. Quanto mais seguidores mais dinheiro da plataforma e com suas caras lavadas em vídeos era mais fácil de convencer a fazer curso tal e tal.
6) Era das lives: ludibriavam as pessoas dentro das redes sociais Facebook e Instagram, foi uma febre e ainda está muito em uso. Só que não apenas para cursos pagos para obter conhecimento da umbanda, mas também para a aberração de promover giras online, desenvolvimento mediúnico online e até curso de incorporação online.
Nessas eras, que muitos chamam de progresso tecnológico, aconteceram verdadeiras pesquisas de marketing, para entender o que melhor chamaria a atenção das pessoas para o seu negócio e obtenção de lucro. É impressionante as mudanças constantes na distribuição de conteúdos. Verdadeiro comércio.
Eis a tragédia que está sujando o nome da Umbanda e fazendo vítimas desavisadas e imprudentes.
E tem gente que aprova essa facilidade e conforto, sem sair de casa, de vivenciar a umbanda. Se não gostar é só trocar de canal que encontra outro charlatão vestido de umbandista e vendendo alguma ilusão.
As pessoas são livres para as escolhas e respeitamos as escolhas de cada um. Só não chame isso de Umbanda, porque sou umbandista e não quero meu nome ou o nome do meu terreiro envolvido nesta tramóia. Porque quando o calo aperta em decorrência destas aberrações, as pessoas costumam dizer, não que fulano, mas que a "Umbanda" desandou a sua vida, colocam todos os umbandistas no mesmo saco. Enquanto chamarem isso de umbanda fica o meu repúdio e indignação.
A umbanda é totalmente gratuita, tanto os atendimentos espirituais quanto suas escolas. "Dai de graça o que de graça recebeste" proporciona a melhor recompensa para quem soma valores puramente espirituais.
E quanto aos ritos online seria cômico se não fosse trágico. Use de sua liberdade para promover o show que quiser, mas respeite a minha liberdade de promover a Umbanda com discrição pessoal. Não se intitule umbandista, escolha outro nome que não agrida uma raiz já estruturada na mente e na alma da maioria: a raíz da umbanda.
Reformulando o primeiro parágrafo: a umbanda não está perdendo a raíz, estão querendo arrancar a pulso esta raiz. Porém, no bate e volta, alguns é que estão perdendo a Umbanda.
Resumindo, nada pode ser feito além do grito de repúdio engasgado dos verdadeiros umbandistas, porque a Umbanda não tem órgão regulador, não tem um "papa", pois a Umbanda é do povo. Quem tem olhos para ver, veja. Quem não tem, boa sorte, porque vai precisar. Cada um com suas escolhas e suas consequências ou recompensas. As verdadeiras casas umbandistas continuam firmes amparadas pelos Guias de luz.
Parafraseando Martin Luther King, o que preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. Onde estão os Umbandistas que distribuíam conteúdo apenas com o objetivo de esclarecer sobre a Umbanda de forma saudável, com a intenção de repassar seus conhecimentos gratuitamente, por amor à religião? Cada vez mais raro encontrar. E os poucos que ainda persistem a qualquer momento apagarão as luzes de suas redes sociais, porque é preciso muita paciência para participar de ambiente virtual e se deparar, a todo instante, com tantos oportunistas e charlatões sujando o nome da Umbanda.
Ednay Melo
Sacerdotisa da Tenda de Umbanda Luz e Caridade - Tulca.